domingo, 15 de janeiro de 2012

Mediocridade atávica

     Nossos pensadores vivem se questinando e alimentando discussões sobre os motivos que fazem do Brasil uma das capitais da corrupção, da alienação, da manipulação política. Teses enormes foram e são escritas sobre essa que é uma das nossas piores qualidades.
     Não me atrevo a avançar muito nesse debate, mas acredito que posso, eventualmente, como hoje, levantar algumas premissas, baseado em algo que - em tese - eu conheço: o destaque dado às notícias, em um jornal do porte da Folha de São Paulo, por exemplo.
     Não tive o prazer, nos meus 40 anos de profissão, de trabalhar na Folha, entre outros motivos, porque sempre morei no Rio. Por aqui, passei meus anos de redação entre o O Jornal, O Globo e o Jornal do Brasil. Há muitos anos, cobrindo férias de uma amiga, trabalhei por dois ou três meses na sucursal do Estadão, mas foi uma ocupação paralela à que mais me motivava: o desafio que representava fazer o O Jornal todos os dias, num momento em que ele praticamente vivia a agonia acelerada pela morte do fundador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand.
     'Dr. Assis', como todos nós nos referíamos a ele (e aos demais donos de jornal, como 'Dr. Roberto' e 'Dr. Brito'), morreu seis meses antes de eu entrar pela primeira vez na redação associada, mas seu espírito ainda vagava pelos corredores do velho prédio da Rua Sacadura Cabral, 103, ali bem perto da Praça Mauá, naqueles últimos meses de 1968.
     Nessa época, talvez tenha cometido uma das muitas opções erradas que devo ter feito ao longo da vida profissional: convidado a ficar no Estadão, optei pelo O Jornal, que acabara de criar um Caderno de Educação, que cabia a mim editar. Atos de quem não tinha muito mais de 20 anos e uma encanto enorme por aqueles desafios.
     Lembro bem da expressão de incredulidade do chefe da sucursal carioca, ao escutar minha recusa. Certamente pensou que estava tratando com um sujeito meio perdido. Abrir mão do Estadão, naquele momento, não fazia nenhum sentido para ele. Alguns anos depois, revivendo esse momento, não pude deixar de rir de mim mesmo.
     Mas vamos voltar a uma das minhas possíveis explicações para nossa mediocridade atávica. As três notícias mais lidas da Folha de São Paulo, hoje, foram, pela ordem, as seguintes: "Após críticas no Twitter, Boninho nega estupro no BBB12"; "Monique diz que não se lembra se fez sexo com Daniel no BBB12"; e "Miss Bumbum vai a lançamento de revista sem calcinha".
     O Brasil se autoexplica, a todos os momentos.

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