sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Soldados da iniquidade

     Uma queda de energia - mais uma, de uma rotineira série - e o esquecimento (imperdoável) de salvar o texto já escrito se aliaram e me fizeram desistir de escrever, ontem à noite, sobre alguns destaques do Jornal Nacional e que já estavam circulando na rede há algum tempo. Acredito, no entanto, que não seja tarde, especialmente por tratarem de temas que mexem com sentimentos.
     Pelo que simbolizam de deplorável, as cenas de soldados americanos urinando em cadáveres de terroristas mortos em combate são, desde já, candidatas ao pódio maior da iniquidade do ano que mal começou. Há nas guerras, todos sabemos, algumas dezenas de formas de exercer a barbárie, mas poucas se aproximam da profanação de cadáveres.
     Os soldados americanos, com aquele gesto, ampliaram, ainda mais, a rejeição que o país sofre em grande parte do mundo. Foi um ato vil, injustificável sob qualquer ótica. Ninguém sonha mais com atos de cavalheirismo em batalhas, soterrados pelas atrocidades nazistas e pelas guerras subsequentes, Vietnã em especial. Mas é impossível não ficar chocado com atitudes como essa. Houve, pelo menos, uma pronta e dura reação do Governo, que condenou o ato e já afastou os militares.
     Outro momento lamentável: a constatação de que nada, nada mesmo, foi feito para minimizar os efeitos da catástrofe que atingiu a Serra Fluminense, há um ano, e prevenir novas tragédias. De volta aos locais mais atingidos, o JN registrou novas imagens e as comparou com as do passado. A miséria e o abandono são os mesmos, criminosamente os mesmos.
     Nada disso, no entanto, impediu que o ainda ministro da Integração, Fernando Bezerra (PSB-PE) fosse ao Congresso defender a escandalosa manipulação de verbas para atender ao seu estado e - principalmente - a seus interesses políticos pessoais. Em um dos momentos de suas 'explicações', foi claramente objetivo, ao dizer, com todas as letras, que todas as suas ações foram aprovadas pela Casa Civil e pela Presidência da República.
     Um recado claro, para quem se propõe a ouvir não apenas o que deseja, mas o que se encerra nas palavras. De uma maneira mais sutil do que seu ex-companheiro de ministério, o pedetista Carlos Lupi, Bezerra exibiu as armas engatilhadas e lembrou que tem um general de muitas estrelas no comando verdadeiro do partido, o todo-poderoso governador pernambucano Eduardo Campos.
     Embora não tenha se explicado nem justificado a manipulação de verbas que deveriam ser de todos os brasileiros, e não apenas de seus eventuais eleitores, Bezerra foi literalmente absolvido pela companheirada e pelo Palácio do Planalto, que se disse satisfeito e disposto a encerrar a questão.
     Lamentável.

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