Cheiro de naftalina

      Fiz várias tentativas. Tive, até, a ajuda de um amigo mais afeito a essas modernidades, mas não deu certo. Sempre que tento postar chamadas no Facebook, para o meu blog, contendo algumas palavras em especial, o texto é bloqueado. Até mesmo o nome do blog tem sido vetado. Para driblar essa marcação, estou colocando apenas o endereço e substituindo expressões mais contundentes por outras aceitáveis, segundo esses parâmetros. Por exemplo: um dirigente que não seja democrático, como o iraniano, é 'presidente', e não outra expressão, mais apropriada, como ditador.
      Há algum tempo, pelo menos na minha página do Fecebook, os ministros do atual governo não cometem qualquer ilícito. Já houve essa mesma idiotice num passado bem recente, quando estávamos no auge das crises institucionais, há seis ou sete meses. As chamadas também foram bloqueadas, mas essa medida autoritária foi revogada, como certamente será agora.
      Pelo que entendi, nas explicações da pagina de 'ajuda', alguma coisa (alguém, sei lá) bloqueou minha URL, seja lá isso o que for. Estou sendo considerado - seria engraçado, se não fosse ridículo - autor de textos que pregam a sedição ou algo semelhante. Isso me faz lembrar o dia em que fui levado para dar explicações no antigo DOPS sobre algumas denúncias pendentes.
     O investigador, que era - felizmente - amigo do meu acompanhante (um agente que chefiava a segurança de O Globo), abriu um pasta e perguntou, de cara: "Você é que é o perigoso Marco Antonio?"
     O gelo estava quebrado e eu comecei a respirar com mais tranquilidade. Se ele tivesse cetteza de que eu era 'perigoso', para os padrões da época, não estararíamos apenas conversando, assim. Algumas horas mais tarde, depois de assinar algumas declarações, eu estava de volta à redação, ao lado do meu protetor, autorizado a viajar à Argentina, a serviço (meu passaporte estava bloqueado, como meus textos estão agora).
     Mas isso aconteceu em 1974, em pleno Governo Militar, cuja intolerância minha geração de jornalistas combatia, cada um com a melhor arma que dispunha. Em 2012, é algo risível, com um odor de naftalina inadmissível.