sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

A luta está apenas começando

     Por mais que a gente saiba que governar é fazer acordos, não consigo me acostumar a ler e ouvir, todos os dias, que os cargos tais são do PMDB; que aqueles mais importantes são do PT; que os intermediários são do PSB; que os sem prestígio pólítico (mas com verbas sempre generosas) ficam com PTB, PP, PTB, PCdoB e outros menos votados.
     Não se trata de distribuição de funções por mérito, formação, histórico. Ministros, diretores e até burocratas sem autonomia conquistam seus lugares graças, quase sempre e apenas, à fidelidade canina (não há outra explicação para a presença de personagens como Gilberto Carvalho e Marco Aurélio Garcia no primeiro escalão, há tanto tempo) e aos interesses político-partidários mais nebulosos, com as raras exceções que confirmam a regra, como o novo ministro da Ciência e Tecnologia, Marco Antônio Raupp.
     Há algum tempo o país convive com essa realidade: a luta pela conquista de espaços, travada, principalmente, entre o PT e o PMDB, os dois maiores partidos brasileiros. A presença de peemedebistas nos mais importantes escalões consolidou-se no primeiro governo Lula e faz parte de um amplo acordo para formar a tal base de apoio não apenas às iniciativas oficiais, mas ao projeto de poder alimentado e desenvolvido pelo PT.
     Maleável e marcado indelevelmente pela genética adesista, o PMDB aceitou de bom grado o papel de parceiro de todos os momentos, desde que o Governo garantisse sua cota no poder, no manuseio das verbas públicas, fundamental na hora da afirmação eleitoral. Seus mentores sabem que são determinantes e, apesar de discriminados 'ideologicamente', indispensáveis.
     A sanha petista, agravada pela proximidade de eleições municipais importantíssimas, no entanto, está mexendo com esse equilíbrio. Com um agravante, para os projetos peemedebistas: a esfuziante aprovação do Governo Dilma, que deu à presidente respaldo para enfrentar seus parceiros.
     O embate, no entanto, não acabou. O PMDB não vai aceitar tranquilamente a perda de prestígio e poder. Em algum momento, a mediação do vice-presidente Michel Temer vai esbarrar na reação mais dura e inflexível de um cacique. Nesse momento, talvez, o país vai saber, de fato, quem tem balas na agulha.

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