terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Discurso vazio

     O papa Bento XVI perdeu mais uma grande chance de ficar calado, ao afirmar, em pronunciamento oficial para diplomatas acreditados no Vaticano e registrado pela Folha, que o casamento homossexual põe "em xeque o futuro da humanidade". Eu até entendo que a Igreja Católica tenha lá seus dogmas, suas propostas, verdades temporais. Mas vem faltando a ela - e os números cadentes de fiéis provam essa afirmação - sintonia com o mundo.
     Particularmente, qualquer um de nós pode, até, olhar a família como o resultado da união de um homem e uma mulher, mas não necessariamente. O casamento 'tradiconal' nunca foi, não é e tampouco será uma garantia de amor, harmonia e bons exemplos. Os fatos estão aí, à vontade, reforçando minha certeza que preservar a família e renovar a humanidade não são sinônimos de união nos moldes preconizados pela Igreja.
     O distanciamento da Igreja das novas realidades fica cada vez mais patente. Em uma ponta, não consegue transmitir uma mensagem que mantenha os fiéis, que debandam para seitas pentecostais claramente voltadas para os ganhos imediatos. Em outro extremo, provoca reações adversas de uma camada da população mais aberta, mais envolvida com novas realidades.
     Paralelamente, vive o inferno das constantes e recorrentes denúncias de pedofilia, envolvendo clérigos em todo o mundo, o que vai de encontro ao discurso pretensamente moralista. Isso, quando não se envolve de maneira injustificável em aventuras políticas radicais, sob o pretexto de defender os mais necessitados.
     A Igreja, claramente, vive um período de orfandade, acentuado drasticamente após a morte do papa João Paulo II, um líder carismático, capaz de reconquistar corações e mentes, mesmo mantendo o discurso formal e fora do tom que vem marcando a luta pelo protagonismo deflagrada por Roma.

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