quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A viúva do atraso

     O mundo - o nosso, o da crise europeia e o do Oriente Médio, principalmente -, eventualmente, nos leva a olhar para longe, esquecendo o que está acontecendo bem aqui ao lado. A praticamente certa reeleição da presidente argentina Cristina Kirchner atesta, como poucos acontecimentos, o abismo político em que mergulharam quase todos os países sul-americanos.
     Com raríssimas exceções, e enorme boa vontade, Chile e Colômbia (mais há um ano do que agora, sem dúvida) escapam da mediocridade assistencialista, da mais pura vulgaridade intelectual, do apelo fácil e barato à ignorância da população, à manipulação.
     A Argentina, que já foi um símbolo no mundo, pelos inegáveis avanços culturais, econômicos e políticos que ostentou nos últimos anos do século 19 e no começo do século 20, parece que está trilhando um caminho sem volta para o atraso.
     A virtualmente reeleita presidente é uma cópia desbotada de Evita e candidata a clone de Maria Estela Peron, conhecida como Isabelita e chamada, na época de sua presidência, de La Señora. Isabelita assumiu o poder com a morte do marido (era a vice-presidente). Governou de 1 de julho de 1974 a 24 de março de 1976, sob a influência nefasta de um prestigitador, José Lopez Rega, chamado, na época, de El Brujo. Foi deposta pelo golpe  militar liderado pelo general Jorge Rafael Videla, responsável por atrocidades impensáveis.
     Cristina consolidou sua liderança, agora inconteste, após a morte do marido e ex-presidente Nestor. A moldar a trajetória das três, o bolorente peronismo, ou 'novo peronismo', calcado no assistencialismo demagógico, no apelo às multidões.
     A propósito da Argentina atual, talvez não não encontremos uma frase que retrate tão bem a realidade. Uma frase que eu tomo a liberdade de extrair do excelente Guia politicamente incorreto da América Latina, dos jornalistas Leandro Narloch e Duda Teixeira. Está lá, na página 197: "Por conta dele (Peron) e de seus seguidores, a Argentina é um país com um grande passado pela frente".

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