sábado, 8 de outubro de 2011

8 de outubro de 1968

     Saí de casa bem cedo, naquele 8 de outubro de 1968, uma segunda-feira. Afinal, morava em Marechal Hermes, subúrbio muito mais distante naqueles idos. Terno preto - que herdei de mei pai, morto há cinco anos - e um evidente nervosismo que eu tentava contornar com seguidos cigarros, vício que consegui abandonar, felizmente, duas décadas depois.
     Na semana anterior, na reunião que tive com o Rubem Cunha, secretário do antigo O Jornal, por indicação do diretor do curso de jornalismo que eu frequentava, ficou combinado que deveria me apresentar na redação da Agência Meridional (a agência de notícias dos Diários Associados) às 9 horas e procurar o subchefe de reportagem, José Paulo Miziara, que já estaria esperando pelo seu mais novo estagiário.
     O Jornal, nessa época, funcionava na Rua Sacadura Cabral, 103, bem perto da Praça Mauá. A Meridional - uma das invenções diabólicas de Assis Chateubriand, que morrera poucos meses antes - ficava no quinto andar (o Jornal do Commercio ocupava o quarto andar e o velho OJ o terceiro). Miziara, que se tornou um amigo, já estava me esperando. Depois de uma rápida conversa sobre assuntos triviais, fui apresentado ao repórter Hely Miranda, que seria meu 'mentor' naqueles primeiros momentos.
     Miranda cobria os assuntos de cidade. Quando não tinha uma pauta específica, requisitava carro e fotógrafo e saía à cata de matérias, visitando obras, percorrendo os subúrbios. Foi com ele que passei meus primeiros dias de foca, de deslumbramento e de - por vezes - insegurança.
     Saíamos e, na primeira semana, eu me limitava a fazer textos para avaliação. Dez dias depois recebi minha primeira pauta 'solo'. E não parei mais, tentando aprender um pouco mais a cada dia de convívio com excelentes profissionais - Miziara e Miranda foram apenas os dois primeiros e ótimos professores que tive ao longo dos mais de 40 anos dedicados ao ofício de apurar, escrever e, eventualmente, como faço agora, no 'O Marco no Blog', ousar discutir temas que mexem com a nossa vida.
     Muitos outros mestres passaram pela minha vida - seria injusto nomear alguns e, eventualmente esquecer outros. A todos, meu obrigado pelo que pude aprender e, tenho a presunção, transmitir pelo menos a alguns dos muitos jovens com os quais convivi posteriormente.

2 comentários:

  1. Você sabe e já demonstrei isso por escrito..adoro ler as suas histórias,principalmente quando se trata da sua trajetória jornalística nas redações.Tem nomes de colegas,funcionários,chefes que vc cita e, uns eu conheço de nome e trabalhos e, outros, desconheço.Nas suas narrativas é como se eu estivesse presenciando os fatos,no meio da ´´loucura`` da redação,entre odores de cigarros,charutos,barulhos de máquinas,corre-corre rotineiro e por aí vai...Pelo menos os cigarros e afins não se podem mais fumar no ambiente fechado (minha saúde agradece) e que bom que largou o vício há duas décadas.
    Agora vou firmar o comentário e ler outras histórias da profissão...té mais!!!!

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  2. O cigarro fez parte do dia a dia da minha geração, Patrícia, especialmente nas redações. Ainda bem que foi banido de quase todos os lugares públicos. E as redações eram assim, mesmo: barulho de máquinas, fumaça etc.

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