domingo, 30 de outubro de 2011

Omissões e desencanto

     O 'alastramento' da presença de milícias por 11 estados, atestado hoje por O Globo, não deve, nem pode, ser tratado, apenas, como um caso de polícia. O exemplo do Rio de Janeiro, talvez o mais gritante do país, está aí, para quem quiser avaliar.
     As milícias surgiram e assumiram a proporção que ainda têm graças quase que exclusivamente à omissão do poder público, que abandonou comunidades inteiras à própria sorte, nas mãos de traficantes e assaltantes.
     Num primeiro momento, a criação de milícias foi a resposta que essas comunidades deram ao desleixo das autoridades. Os grupos surgiram dos intestinos das localidades para preservar sua liberdade, seu direito a não estar subjugadas por bandidos, sua luta para não deixar seus filhos ingressarem nesse mundo quase sempre sem volta.
     Com o tempo - e não demorou muito -, esses grupos se transformaram em braços de políticos vagabundos, de policiais inescrupulosos. Eles - que deram 'nova' cara ao banditismo - enxergaram as enormes possibilidades de ganhos reais. E ocuparam o lugar dos que haviam eliminado, sugando seus vizinhos, assumindo a lei.
     Convivo com pessoas que são obrigadas a conviver com milicianos. Seus relatos não são os mais edificantes. Mas - e isso, infelizmente, alimenta essa indústria - são menos pavorosos do que os do tempo em que eram reféns do tráfico, por exemplo.
     Todos são unânimes, no entanto, em garantir que sonham com a presença eficaz do Governo, com o dia em que não terão que pagar para sobreviver, e não apenas nas visitas das vésperas de eleições.
     As milícias, eu não tenho a menor dúvida, são o produto mais acabado do abandono, do desencanto.

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