domingo, 16 de outubro de 2011

Uma faxina na 'faxina'

     É doloroso ver e ouvir nossos combativos analistas políticos desfilarem, na Globo News, falando do perfil rígido assumido pelo Governo Dilma Roussef em relação à corrupção, uma mentira que, de tanto ser repetida, ganhou contornos de verdade.
     Não houve - nem há - faxina alguma, não canso de repetir. A atual presidente limitou-se - como é que as pessoas esquecem dos fatos com tanta rapidez? - a acatar pedidos de afastamentos de ministros, escolhidos por ela, que foram acusados de pura roubalheira.
     Ao contrário do que insistem em 'analisar' nossos especialistas em política, a presidente, publicamente, prestigiou todos os afastados, assim como fizeram seus sucessores nos ministérios. Ninguém teve a coragem de assumir que havia, sim, evidências de crimes contra o patrimônio público. Houve uma contemporização geral, daquelas que claramente evitam o confronto, destinadas a abafar incêndios, jamais processar os incendiários.
     Até mesmo as prisões da turma do Turismo, flagrada em delito pela Polícia Federal, foram contestadas pelo Governo. Aproveitando a 'brecha' das algemas (os presos foram legalmente algemados, como ocorre em todos os países do mundo), os porta-vozes oficiais desviaram o foco do problema, transferindo a discussão sobre a causa das prisões, para um diversionista debate sobre abusos da PF.
     Mais. Se há alguém que faz questão de não assumir essa tal de faxina, é a presidente, assustada com a possibilidade de retaliação dos ex-auxiliares. A ex-ministra-chefe da casa Civil, Erenice Guerra, por exemplo, circulou em solenidades oficiais, convidada pelo Governo. Ninguém teve coragem de enquadrá-la, como as denúncias exigiam.
     O caso mais recente - a Veja publicou na revista que chegou ontem aos assinantes, denúncias de ex-auxiliares contra o ministro do Esporte, Orlando Silva (veja comentário
Cartão vermelho para Orlando Silva no Blog) - ainda está ecoando. O ministro, assim como todos os atingidos por denúncias anteriormente, nega tudo. Garante que não administrava o desvio de verbas de programas oficiais para financiar seu partido o PCdoB, como garantem os entrevistados pela revista, detalhadamente.
     Já assistimos a esse filme várias vezes, esse ano. No fim, o mocinho - a dignidade - morre, soterrado pelos acordos firmados em nome da governabilidade, seja lá o que isso for. Eventualmente, Veja corre o risco de ser investigada pela ABI, por produzir reportagens investigativas, cumprindo seu papel.

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