domingo, 23 de outubro de 2011

O encanto da bola que não quicava

     Sou apaixonado, também, pelo futsal, desde o tempo em que era jogado com bola estofada com serragem, a bola que não quicava, e era chamado de futebol de salão. No velho Pedro II da 'Rua Larga', cansamos, eu e outros peladeiros, de escapar, pela lateral da quadra, para conseguir o recheio que garantisse nosso lazer. Não esqueço, também, do primeiro campeonato de futebol de salão que disputei, na ACM (tinha 12 anos), ali da Lapa, num time formado pelos alunos da minha turma do primeiro ano do antigo ginásio (não sei como explicar isso, hoje, nesses tempo de segmentos), cursado no 'Anexo Tijuca', dirigido pelo professor Segadas Viana, em frente ao Colégio Militar.
     As peladas de futebol de campo, no entanto, eram mais comuns, num tempo em que as quadras estavam ao alcance de poucos, dos poucos que frequentavam clubes, o que não era - decididamente - o meu caso de moleque de um longínquo subúrbio. Atualmente, até mesmo pela exiguidade de espaço, as quadras substituíram os campos e estão presentes em toda a parte.
     Com o passar dos anos, as fraturas e torções me expulsaram dos gramados e me atiraram definitivamente nas quadras do condomínio em que fui morar. Apesar de rápido, o futebel de salão exigia menos espaços, menos arrancadas, mais inteligência para ocupar espaços.
     Convivi com alguns excelentes jogadores amadores, como Elson, Wladimir, Valério, Liquinho, Maru, Carlinhos Babá, 'Gomes', um apelido, 'homenagem' a um zagueiro que batia em tudo e em todos que passavem pela sua frente, ou pelos lados. Na verdade, seu nome era Marco, como eu. Os apelidos faziam parte do repertório de Elson, ao lado das suas jogadas sensacionais que, quase sempre - sou 'obrigado a confessar' - terminavam em gols feitos por mim.
     Tudo isso para falar, um pouco do futsal, que conquistou, ontem, mais um título internacional, o do Grand Prix, em Manaus, com uma vitória de 2 a 1 sobre o forte time da Rússia, que contou com três brasileiros. Um jogo duríssimo. Rússia e Irã (sem falar na Espanha) têm, atualmente, um futsal de primeira linha.
     O destaque, mais uma vez, foi Falcão, o maior ídolo do esporte, o maior jogador que já vi jogar (acompanho o futsal há muitos e muito anos). Maior até do que o campeoníssimo Manoel Tobias, uma referência nos anos 1990 e começo dos anos 2000. Falcão faz, nas quadras, o que todo jogador (peladeiro ou profissional, de campo, ou não) sonha. Dribles incríveis, gols cinematográficos, passes perfeitos.
     Falcão não foi o melhor jogador do torneio - mérito de seu companheiro Valdin, também do Santos. Perdeu gols, errou alguns passes. No jogo de ontem passou o maior tempo no banco de reservas. Entrou no final e, na prorrogação (estava 1 a 1), assinou mais uma de suas obras: um gol de peito, que deixou o brasileiro/russo Gustavo sem ação.
     Falcão estava nitidamente amargurado, por estar sendo preterido, justamente numa decisão. Fez o gol do título e desabafou: "Ninguém vai apagar meu brilho, mesmo aos 34 anos". Talvez não precisasse desabafar. Falcão, para os que gostam desse esporte que exige o máximo em desempenho, já garantiu seu brilho eterno há algum tempo. Um brilho que extrapolou, em muito, os limites do futsal.

     PS: Se eu fosse treinador de goleiros de futebol de campo, exigiria que eles vissem partidas de futsal, para aprender a enfrentar os chutes, ir ao encontro das bolas. Goleiro de futsal não fecha os olhos, não vira o rosto, não se esconde das pancadas cara a cara. Quando eu era moleque, escutei, de um peladeiro mais velho, uma frase definitiva: "Bola não morde". Acho que ninguém contou isso aos nossos 'arqueiros', em geral.

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