É inevitável. Sempre que me deparo com as reportagens sobre o Círio de Nazaré - a maior festa religiosa do Pará e uma das maiores do país - sou remetido à redação da Meridional, a agência de notícias que supria os diversos jornais e rádios dos Diários Associados, entre eles o O Jornal, seu 'líder'.
O motivo é simples: meu primeiro chefe de reportagem, 'seu' Evaristo, de quem tratei em um dos capítulos do ensaio 'Nariz de Cera', todos os anos, nessa época, voltava ao seu estado natal e de lá regressava com uma matéria enorme sobre a festividade.
Excetuando a data, um ou outro número e invertendo alguns adjetivos, o texto era praticamente o mesmo. As fotos, é claro, eram atualizadas e, já naquela época, atestavam o crescimento da devoção do paraense à Nossa Senhora de Nazaré.
Imagino que a festa fosse uma justificativa para a viagem (uma aventura, naqueles primórdios dos anos 1960/1970), patrocinada pelos ainda não totalmente vazios bolsos associados.
Em uma dessas voltas das origens, 'seu' Evaristo (ninguém ousava tratá-lo por você) trouxe na bagagem um jovem, Álvaro, que passou a trabalhar como contínuo da redação. Na verdade, o nosso contínuo era uma espécie de ajudantes de ordens do chefe, a quem venerava como a um pai (as más línguas da redação aventavam essa hipótese) e - evidentemente - temia.
Por trás de seu onipresente charuto (é, jovens, nosso chefe fumava charuto, em uma área comum), 'seu' Evaristo atirava as ordens, sempre lacônico: "Garoto, vai pegar um café". Álvaro era sempre o'Garoto'.
Com o tempo, o simplório contínuo - um menino praticamente analfabeto e não muito concentrado, digamos - começou a imaginar (talvez perceber) que o fato de ter sido 'adotado' pelo chefão proporcionava algum poder. E passou a usá-lo, especialmente quando chegava um novo funcionário.
Depois que saí dos Diários, nunca mais soube do Álvaro, o garoto do 'seu Evaristo', um milagre que poderia ser atribuído à Nossa Senhora de Nazaré.
Nenhum comentário:
Postar um comentário