segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Na marca do pênalti

     "Estou sereno, mas indignado diante de tamanha agressividade", garantiu o ministro do Esporte, Orlando Silva (PCdoB) em entrevista coletiva, em Guadalajara (México) - onde acompanha os Jogos Pan-americanos -, sobre as denúncias que o colocam no centro de um grande esquema de corrupção na sua pasta, denunciado pela revista Veja.
     Não sei se vocês acompanharam essa tal entrevista, pela televisão. Eu parei para assistir à 'indignação' do ministro. Ao vivo e a cores as reações são mais reais, normalmente. Fiquei imaginando que veria um homem determinado, expondo claramente seu inconformismo com acusações falsas, olhar duro, expressões que transmitissem confiança.
     Admito que não sou um especialista em analisar pessoas. Mas ao longo de quarenta anos de jornalismo, pude aprender a distinguir quando um entrevistado estava sendo sincero, ou quando apenas cumpria um papel. Quando falava apenas para se livrar de uma tarefa, ou quando colocava sua alma nas respostas, nos questionamentos, na 'indignação'.
     Não tenho dúvidas (ou tenho pouquíssimas): o ministro Orlando Silva está acuado, e não indignado. Também não está sereno, como sugere a frase-feita reproduzida pela Folha, hoje. Em momento algum os olhos e expressões do acusado coincidiram com suas palavras. Foi como um filme em que as legendas estão em descompasso com as ações, atrasadas, inconsequentes.
     As acusações são muito consistentes, especialmente porque partem de um ex-militante do partido do ministro, que tinha acesso a ele, que chegou, até, a ser candidato em Brasília. E foram corroboradas por outro envolvido na tramoia.
     A história toda - já abordamos antes, mas é bom refrescar a memória - envolve verbas manipuladas para programas de fachada patrocinados pelo Ministério do Esporte, desde o primeiro governo Lula. O dinheiro era liberado para projetos quase fictícios, como o Segundo Tempo, e acabava nos bolsos de funcionários do ministério, das entidades beneficiadas e nos cofres do PCdo B. Um dos denunciantes afirma que entregou caixas de dinheiro diretamente ao atual ministro, na garagem do Ministério. Tudo em nome da causa, a deles, é claro.
     As fontes das notícias - é evidente - não são as melhores possíveis. E nem poderiam ser, pois participavam de toda a roubalheira e - ao que tudo indica - só reagiram porque estavam sob ameaça de enormes 'prejuízos'. Isso, entretanto, não invalida nem desqualifica as denúncias. Mostra, apenas a promiscuidade, a interação entre o poder e o banditismo, que se acentuou dramaticamente nos últimos oito anos e meio.
     A presidente, que já se solidariza com o Ministro, começa a mudar de tática. Orlando Silva já foi convocado para se explicar e deve voltar ainda hoje ao Brasil. Deve - ao que tudo indica - seguir o caminho traçado pela turma do Turismo, dos Transportes e da Agricultura: pedir afastamento do cargo para 'facilitar a apuração' e 'provar que tudo não passa de calúnia'. E tentar preservar a tal fantasia da faxina. Como se fosse possível manter no cargo elementos envolvidos em pilantragens desse nível.

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