domingo, 23 de outubro de 2011

Sob o manto do sectarismo religioso

     A morte do ex-ditador Muamar Kadafi, em tese - e somente em tese -, seria o prenúncio de novos tempos, de liberdade e abertura para a Líbia, país que ficou marcado nos últimos meses pela desintegração da sociedade, pela volta às origens anteriores à unificação das várias tribos que dividiam a região.
     Afinal, poucas coisas podem ser piores do que um governo terrorista (embora 'recém-convertido'), que usa a força para manter a população acuada, que privilegia determinados grupos, que atropela leis, que prende, mata e manda matar seus cidadãos.
     Infelizmente, no caso dessa região tão conflagrada do mundo, não há muitos limites para mergulhos nas trevas, no obscurantismo, do sectarismo religioso. Os novos líderes líbios, à falta de outro elemento que reaglutine a Nação, optaram - pelo que se pode ler nos noticiários internacionais de hoje, como nos da Folha - pelo apelo mais simples e imediatista: o fanatismo religioso.
     Segundo nos contam as agências de notícias, o líder do Conselho Nacional de Transição, um certo Mustafá Abdel Jalil, disse que o novo governo, aquele que vai substituir os 42 anos da era Kadafi, deve se basear na sharia (há quem escreva charia), a lei islâmica que mistura tudo - privado e público - e coloca sob o manto da lei religiosa islâmica, interpetrada - pelo que se depreende - da forma mais atrasada.
     Para Jalil, todos os reduzidíssimos avanços legais conquistados ao longo dos últimos anos são nulos completamente, exceto os que estejam de acordo com a sharia (caminho). Sem constrangimento algum, antecipou, para gáudio dos 'revolucionários', que não vai aceitar a legislação que proíbe a poligamia.
     É isso mesmo. Entre as ameaças desse retrocesso, surge a constatação de que as mulheres podem, sim, ser propriedades dos homens, que podem ter - deveria dizer comprar, pois é o que acontece, de fato - quantas seu dinheiro possa pagar. O cutelo começa a pairar, também, sobre homossexuais e adúlteros, sujeitos a perecer sob pedradas.
     Pode piorar, sim.

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