sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Roleta geológica

     No domingo, dia 2 de outubro, publiquei o texto que, tomo a liberdade, repito abaixo. Não mudei de ideia. A decisão de hoje, do Senado, mudando a distribuição de royalties e a participação especial nos recursos arrecados nos campos de petróleo, apenas consolida o consenso de todos os estados, excluindo, por óbvio, Rio, Espírito Santo e São Paulo (esse último, com menos determinação, é verdade). Caberá à presidente Dilma Roussef  decidir. Vamos ao texto, que mantive, incluindo eventuais erros de datas. Há uma expressão da qual gostei especialmente: roleta geológica:

     "Não vou falar do Maranhão, nem de Alagoas, estados onde a miséria e o descaso atingem em cheio a população. Alguém poderia lembrar, de forma incontestável, que os males recentes e maiores desses pedaços do Brasil são provocados pela presença no poder de famílias que dominam a cena política, pois dotados que são de enorme potencial turístico, em especial.
     Vou me ater, como exemplo, ao Piauí, que sequer tem uma faixa litonânea razoavelmente grande, para vender aos viajantes do mundo. Pois o Piauí não teve a sorte do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, por exemplo, de ser abençoado com enormes e ainda imensuráveis reservas de petróleo. Até mesmo sua capital - ao contrário do que acontece em todos os estado do Nordeste - fica no interior.
     Por isso, por um acaso negativo da natureza, o Piauí está fadado a não ser beneficiado dignamente pela exploração de um bem natural que é, antes de qualquer coisa, brasileiro. Em virtude dessa roleta geológica, que premiou alguns, os piauienses, a prevalecer a teoria dos políticos fluminenses e capixabas, em especial, estarão fadados à desventura financeira, alijados que seriam dos benefícios da exploração de um bem nacional, como o petróleo.
     É claro que o Rio de Janeiro não pode abrir mão de recursos - sejam eles quais forem, e de onde vierem. Há enormes necessidades de investimento e o direito inquestionável à reparação pelos problemas naturalmente provocados pela exploração de bacias petrolíferas. Mas o debate sobre esses direitos, provocado pela emenda do ex-deputado Ibsen Pinheiro (divide igualitariamente os royalties do petróleo da camada pré-sal), está sendo conduzido de maneira errada, emocional, demagógica.
     A emenda, que foi vetada pelo ex-presidente Lula, ainda será alvo de debate no Senado, marcado para o próximo dia 5. Os governos do Rio e do Espíriro Santo temem - com razão - que o veto seja negado e que prevaleça o teor generalista da emenda, gerando uma luta federativa. O Governo Federal já admitou abrir mão de parte dos seus lucros. Os estados, não. Querem tudo de algo que ainda é uma grande promessa.
    Em nome da defesa de seus cidadãos, ignoram os demais brasileiros, como se fôssemos povos distintos, sem responsabilidades mútuas. Historicamente discriminados, os mais pobres - prevalecendo o veto à socialização dos ganhos - estarão condenados à eternização da sua realidade.
     Não me parece justo, em absoluto.


(*) Nasci no Rio, na Gamboa, ali ao lado de Santo Cristo, em uma transversal da Rua do Livramento. Talvez por ser resultado de integração de imigrantes portugueses e descendentes de escravos africanos, tendo a não considerar separações por origens ou raça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário