sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O gosto da fraternidade

     Notícias sobre discriminação, em geral, e racial, em particular - como as que estão estampadas nos jornais de hoje, ocorridas em Curitiba -, sempre me remetem às minhas infância e juventude em Marechal Hermes, subúrbio da Central do Brasil, entre Deodoro e Bento Ribeiro. Havia discriminação por lá, naqueles idos dos anos 1950/60?
     Não posso afirmar, com convicção, se esse desvio de caráter do homem coexistia com os campos de pelada, as brincadeiras nas ruas, a harmonia na escola pública (nunca vou esquecer os quatro anos passados na Escola Municipal Evangelina Duarte Baptista). Se havia, nunca foi tão grande a ponto de me marcar, de marcar algum momento.
     O subúrbio - pelo menos o meu, menor e mais calmo - era mais igualitário, ensinava, integrava. Vivi 20 anos da minha vida em um pedaço de Marechal Hermes, como já contei aqui. Essa quadra do bairro era conhecida como 'Portugal Pequeno' (por razões óbvias), fazia limite com a 'Favelinha' e ficava um pouco distante do 'Pombal', um conjunto de apartamentos populares. Tão populares quanto a casa de vila onde eu morava, ou as residências simples da Favelinha.
     Aos sábados e domingos, convergíamos - todos os moleques - para os campos do Navarro (que já não mais existe há muito tempo, e onde enfrentei, certa vez, Dario, aquele que acabou na Seleção Brasileira, o Dadá Maravilha, que por lá também morava) - e do União, hoje Botafogo. De segunda a sexta, a saudosa rotina da sala de aula, preenchida pela garotada de todos esses recantos citados e das três ruas 'ricas' do bairro: as antigas Sete, Treze e 1º de Janeiro.
     Já adolescentes, dividíamos - todos, naturalmente juntos - o passeio das tardes/noites dos fins de semana, na avenida principal do bairro (Avenida General Oswaldo Cordeiro de Farias).
     Talvez o aprofundamento das diferenças sociais e da deficiência das formações familiar e educacional venha pressionando e fazendo com alguns reajam com essa intolerância inaceitável. Lamento, mais por quem é intolerante, do que pelas vítimas.
     O intolerante não provou o gosto da fraternidade.

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