domingo, 20 de novembro de 2011

Visões simplistas

     Nosso noticiário em geral, mesmo o de jornais conservadores, como O Globo, é - de quando em quando - atingido pela inconsistência ideológica, se é que podemos chamar assim as - digamos - interpretações políticas. O caso da manchete de hoje é exemplar: "Espanha vai às urnas à espera de vitória esmagadora do PP". No subtítulo, o escorregão: 'Com desemprego recorde de 21,5% no país e insatisfação ampla com governo socialista, resignação e melancolia deminam eleitores".
     A leitura desse conjunto induz, claramente a pensar que que uma vitória de forças de 'centro-direita', seja lá o que isso for, é sempre produto da melancolia, da resignação ante o futuro, jamais de uma posição pensada, adotada com consciência, especialmente num momento de crise absoluta, como vive a Europa. Imaginemos o contrário, apenas para efeito de raciocínio. Certamente leríamos algo como "Espanha soterra conservadores e sonha com novos dias".
     Essa leitura dicotômica e simplória da política parte de um princípio que a história recente acaba de enterrar: que a chamada 'esquerda' é, por definição, melhor do que a 'direita', considerando-se de 'esquerda' os regimes da antiga União Soviética, Cuba e afins. A China é um caso à parte, pois determina e vive um mundo particular, com normas únicas. É óbvio que esse raciocínio é capenga. Como é simplista essa tendência a rotular comportamentos face à sociedade.
     Vivemos, no Brasil, um caso exemplar. Três governos de esquerda marcados pelos maiores escândalos da história do país. Nada, em tempo algum, chegou perto do que estamos vivenciando há nove anos. Paralelamente, é verdade, o país conseguiu vencer as crises econômicas que atolaram grande parte do mundo, mas seguindo um modelo macroeconômico claramente capitalista, de 'direita'.
     Nem mesmo a tão propalada distribuição de renda, através de programas sociais, pode ser caracterizada como de 'esquerda'. Instituído no governo de Fernando Henrique Cardoso, é um instrumento que foi imaginado para minorar a situação de miséria do povo e ampliado, naturalmente, graças ao sucesso de um plano econômico (de 'direita'?) que o governo do ex-presidente Lula herdou de seu antecessor. Ou alguém imagina que algum estadista assume o poder pensando em massacrar miseráveis? As únicas exceções, claras e indiscutíveis, vieram justamente da ex-União Soviética e da China, onde houve os maiores genocídios da história do homem.
     Para o bem de todos e felicidade geral da inteligência, seria bom que começássemos a repensar essa teoria tola e medíocre de que somente alguns 'eleitos' detêm a chama da visão social. Ou a que só esses seres especiais conhecem os caminhos para reduzir diferenças. Democracia, caros, ainda é a melhor receita.

2 comentários:

  1. Esse é um posicionamento histórico das esquerdas. Sempre foi assim, aqui e lá fora. Julgam-se os donos da verdade e os únicos defensores da democracia. Tudo o que for contrário às suas surradas e anacrônicas teses é atacado e rotulado de antidemocrático. Pena que nossos jornais, incluindo O Globo -- não tão "conservador" assim -- prestem-se a servir a essas ideias...

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  2. Acho que é uma das características dos extremos, Paulo. Um desserviço à democracia, ao equilíbrio.

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