segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A banalização do mal

     A entrevista que o deputado federal sergipano Almeida Lima deu ao site de Veja merece ser lida. Não só por apontar os riscos à democracia que estão embutidos no projeto de poder do PT, mas para exibir, também, o lado inconsistente da ideologia política que marca nossos políticos. Almeida Lima, que foi senador até o ano passado, acaba de sair da base governamental (era do adesista PMDB) e filiou-se ao PPS, oposicionista.
     No seu roteiro político, incursões partidárias que começaram no PMDB e passaram por PSB, PDT, PSDB e novamente PMDB, de onde acaba de sair. A registrar, o fato de ele estar fazendo o caminho contrário dos políticos: sair da situação, cômoda, para virar oposição. Os motivos - e eles ficam bem claros na entrevista - são mais pessoais do que ideológicos: espaço.
     Nem por isso, suas declarações perdem a força, principalmente porque partem de alguém que conviveu com o esquema, viveu bem de perto as manobras, os conluios, os acertos. Em alguns trechos reconheci pedaços de pensamentos que andei distribuindo por aqui, no Blog, durante esses dez meses. Assim como eu, Almeida Lima acredita que o PT "tem um projeto de dominação de todo o establishment (eu não usaria essa palavra), de todo o espaço de poder para levar o Brasil a um governo autoritário, antidemocrático".
     Ele alerta, ainda, sobre a ameaça embutida nesse gigantesco processo de corrupção que envolve todos os escalões do governo. "Vez por outra eles botam as asas de fora e a imprensa poda aqui ou acolá. Mas não se esqueça: aos poucos eles vão avançando mediante o financiamento corrupto que eles têm. Eu nunca vi a UNE com tanto dinheiro em caixa quanto hoje. Nunca vi entidades sindicais e do movimento social com tantos recursos e tão bem aparelhadas quanto hoje", deixa bem claro.
     O deputado bate ainda mais forte no que ele chama de banda podre do PT: "Agora, como está roubando, corrompendo, a ética não pode ser vista mais como um valor. José Dirceu foi recebido essa semana em Aracaju, no palácio, pelo governador, como um verdadeiro chefe de estado. Um chefe de quadrilha!", disse Lima, com todas letras.
     É um depoimento duro, corajoso, até. Poucos oposicionistas mais 'tradicionais' chegaram perto. Mesmo abstraindo ressentimentos por ter sido preterido quando pretendia alçar novos voos, Almeida Lima é incisivo o bastante para dar ressonância ao que poderia, apenas, ser lido como um desabafo.
     Com a sensibilidade de quem esteve lá, no centro de tudo, o deputado acerta o alvo quando, a certa altura a entervista, adverte para um grande risco: a banalização do mal.

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