sábado, 19 de novembro de 2011

Júlia e o Pedro II

     A turma da minha neta Júlia, no Colégio Pedro II do Humaitá - ela está terminando o segundo ano do ensino fundamental -, vai se apresentar hoje pela manhã, para parentes e amigos. As crianças vão executar números musicais, com flauta doce. O entusiasmo de todos deve ser o mesmo que ela vem exibindo, ao descobrir que consegue tocar lendo a pauta, as notas, interpretando as variações.
     Para quem não consegue distinguir entre um dó e um sol, como eu, é um momento diferenciado. Ver que essas crianças estão sendo movidas e envolvidas pelas artes é algo especial. Isso, em um colégio público. Um colégio que reconhecidamente sofreu, ao longo dos anos, com o processo de perda de conteúdo que marcou nosso sistema educacional, mas que mantém o espírito e a vocação de 'padrão' do antigo educandário.
     Pois o Pedro II foi o 'colégio padrão' brasileiro por mais de um século. Fundado em 2 de dezembro de 1837 (aniversário do imperador Pedro II), era o caminho natural e único para o acesso direto aos cursos superiores nos anos 1800. Fez e continua fazendo história. Como nos sete anos em que eu lá estudei. Anos efervescentes, de mudança no país, como as provocadas pelo Movimento Militar de 1964. Anos que forjaram uma geração que amadureceu mais rapidamente, que assumiu um papel protagonista.
     Olho para Júlia, com o mesmo uniforme que minhas colegas usavam há 50 anos e me emociono (já prometi a ela o emblema do último ano, com as três estrelas, que guardo até hoje). Eu ainda usei a calça azul marinho, a camisa de mangas compridas cáqui e a gravata azul marinho obrigatória que substituíram a antiga 'farda imperial'. Mas logo houve a troca de uniforme, que mudou as cores da camisa (para branco) e da gravata - que não mais existe -, para azul claro. Quase exatamente como hoje, honrando seus 174 anos de tradição.
     Brinco com Júlia, dizendo que somos 'colegas'. E não deixamos de ser - quem passou pelo Pedro II sabe disso. Afinal, cantamos a mesma 'Tabuada' (espécie de 'grito de guerra' dos alunos) e entoamos o mesmo hino, criado em 1937, e que continua absolutamente atual:

     "Nós levamos nas mãos
     O futuro de uma grande e brilhante nação
     Nosso passo constante e seguro
     Rasga estradas de luz na amplidão".

6 comentários:

  1. Parabéns à Júlia e ao avô e colega Marco. Não sei se você sabe, mas fui também, com muita honra, aluno do Colégio Pedro II, ainda que por apenas um dia. Fui matriculado no Pedro II(sede)enquanto aguardava o resultado do concurso de admissão ao Colégio Militar. No meu primeiro dia de aula soube que havia sido aprovado no CMRJ.
    Hoje tenho dois netos -- Vítor e Fernanda -- alunos do Pedro II. E a mãe deles é professora e ex-aluna.

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  2. É claro que eu sabia, Paulo. Ter passado pelo Pedro II e ver, como nós, os netos com aquele uniforme é gratificante. Obrigado, 'colega' e amigo de tantas décadas.

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  3. Que texto lindo, Marco Antonio! Adorei. Fiquei emocionada, e eu nem fui aluna do Pedro II, mas varios de meus parentes e amigos foram. Sem dúvida é um colégio de significativa importancia na educacao brasileira. Parabéns à Júlia e a todos da família.

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  4. Obigado, Solange. Júlia e o Pedro II, juntos, então, mexem com as minhas emoções.

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  5. Linda apresentação e notei que os alunos e os professores estavam descontraídos,embalados pelo som da orquestra de jovenzinhos.
    Toquei flauta doce no colégio Santo Antônio Maria Zaccaria,ou melhor, Zaccaria mesmo. Aprendi na aula de música por dois anos,a escrita e a prática que, posteriormente ensinei ao meu irmão do meio. Ver a apresentação me deixou emocionada,ainda mais ter tocado uma das músicas apresentadas pelos alunos.Que ela continue assim,essa menina linda,esperta,doce e musical.

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  6. É o que todos nós esperamos, Patrícia. Atualmente, ela está empenhadíssima em tocar o tema do Piratas do Caribe. E está quase conseguindo.

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