quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Vasco, uma paixão

     Sou Vasco desde sempre. Aprendi a ler nas páginas esportivas de O Globo, em casa, com minha mãe, antes mesmo de ir para a escola. Queria saber tudo o que acontecia com aquele time que me conquistou naturalmente, sem que eu me desse conta. Ficava encantado com as fotos, queria entender o que diziam aqueles conjuntos de letras que acompanhavam as imagens de Barbosa, Belini, Sabará, Ademir e outros que mexiam com meu imaginário de criança de subúrbio, da rua de terra onde dei meus primeiros chutes em peladas que quase sempre acabavam em dedões arrebentados.
     Meu primeiro ídolo esportivo foi um goleiro especial, a quem, nós garotos, tentávamos imitar, saltando na terra e gritando, como os locutores da época: "Agarra, Barbosa!!!", remanescente de um mito, o Expresso da Vitória. A ele se seguiram tantos outros que vi jogar, como Belini, Orlando, Coronel (o grande marcador de Garrincha), Écio Capovila, Vavá, Valter, Pinga, Sabará, Almir, Andrada, Alcir, Romário, Edmundo, Mauro Galvão e, o maior deles, Roberto, o ainda imbatível artilheiro do Campeonato Brasileiro e um dos maiores da nossa história, atrás apenas, oficialmente, de Pelé e Romário (não estou levando em conta os números de Túlio e não disponho de dados oficiais confiáveis sobre Dario, mas admito que tenham marcado mais do que Roberto).
     Em quase 60 anos de paixão, vivi momentos inesquecíveis, como a conquista do supercampeonato de 1958, e a dor dos 12 anos seguintes sem títulos significativos, justamente em uma fase da vida entre a infância e a idade adulta. Estava no Maracanã, no título de 1970, conquistado naquele jogo com o Botafogo (2 a 1, gols de Walfrido e Gílson Nunes). Eu e um amigo, Renato Kloss, também jornalista, varamos a madrugada comemorando.
     E vieram o primeiro título brasileiro, em 1974 (eu estive no empate - 1 a 1 - em Belo Horizonte e na vitória - 2 a 1 - no Rio, na decisão com o Cruzeiro), 1977 e os íncríveis anos 1980 e 1990, repletos de conquistas, algumas absolutamente emocionantes, como a Libertadores ("Juninho, monumental") e a Mercosul, na maior virada da história de uma decisão de título: 4 a 3 no Palmeiras, com um a menos e depois de estar perdendo por 3 a 0.
     Nessa caminhada, algumas - talvez muitas - dores, como a perda do Mundial de Clubes, nos pênaltis, para o Corínthians, quando merecíamos vencer (no Japão, a derrota foi normal, para uma equipe melhor), e alguns sentidíssimos títulos estaduais, em disputas com nosso eterno rival. Paralelamente, sofri o enorme desconforto de ver a imagem de um clube pioneiro na luta por igualdade ser arranhada por administrações desvinculadas da nossa história.
     Mas, fazendo um balanço dessas quase seis décadas de paixão, ainda envolvido pelo clima da sensacional vitória de ontem à noite (5 a 2), também de virada, quando tudo parecia estar perdido - afinal, "o Vasco é o time da virada, é o time do amor" -, concluo que todos os minutos desse sentimento valeram a pena, sim. É muito bom sentir orgulho de uma história, a mais bela de todas entre os clubes brasileiros. É muito bom sentir São Januário tremer de emoção.
     Casaca!

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