quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Em nome da verdade

     A presidente Dilma Roussef não pode (ou não deve) se permitir resvalar por um caminho teoricamente fácil, mas que pode comprometer toda a proposta e, ao menos, o ideário formal da Comissão da Verdade, criada recentemente. As pressões por indicação de nomes, que já era previsível, tomou a forma de manchete, na edição digital de O Globo, que estampa a intensa movimentação de grupos de ex-presos políticos para indicar nomes.
     Prevalecendo as pressões, essa iniciativa - que poderia servir, de fato, para fechar esse ciclo de desconfianças, de insatisfação, de mágoas e ressentimentos - corre o risco de se transformar num simples instrumento de uma vingança fora de hora, superada pela maioria da população e pelo amadurecimento político do país.
     Uma comissão com tamanha importância histórica deve estar acima de sentimentos pessoais, embora compreensíveis. Um filho que perdeu o pai; o irmão que ficou sem a irmã; e o amigo que sofreu com a solidão, dificilmente teriam capacidade de simplesmente perdoar, encerrar, esquecer. Por isso, não podem julgar, investigar.
     Em situações como a brasileira - absolutamente distinta dos casos chileno e argentino -, em que a transição entre o regime autoritário e o democrático foi feita dentro de um processo de negociação, a prudência e o bom-senso recomendam a maior isenção possível.
     O País conta com nomes acima de qualquer dúvida, de qualquer restrição, em todos os campos da atividade. Pessoas envolvidas, sim, com o futuro, com as instituições, com o respeito ao processo desenvolvido ao longo de anos muito duros, mas que transformaram nossa sociedade em um corpo aberto, tolerante.
     Houve crimes, e ninguém tem a menor dúvida de que eles existiram. Vítimas e testemunhas estão entre nós, respirando a liberdade que foi conquistada, mas também negociada - e a presidente Dilma Rousseff - ex-presa política - é o exemplo mais vivo dessa realidade.
     Transformar um projeto, que é da sociedade em geral, em instrumento de alguns, desmerece o próprio sacrifício de uma geração. Além de abrir espaço, também, para a exposição do outro lado desse moeda que não tem apenas uma face: os crimes - sim, crimes, e foram muitos - cometidos em nome de uma luta que nem sempre objetivava a liberdade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário