segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Não existe tráfico tolerável

     Trocando de canal, ontem à noite, à espera do início do Manhattan Connection, um programa que fecha bem as noites de domingo - apesar das batatadas sintáticas do analista de economia -, passei por uma entrevista com um desses sociólogos (ou coisa que o valha) 'modernos'. O assunto em debate era a ocupação da Favela da Rocinha, a oferta de serviços e o estilo de ocupação ideal para esas áreas conflagradas da cidade.
     Discurso politicamente correto, destacando a importância da chegada do Estado a locais dominados pelo crime, levando com ele, Estado, os serviços básicos, liberdade, segurança, saneamento etc. E foi, então, que, ao meu ver, tudo desandou. Ao ressaltar a importância da retomada sem confrontos, que poderiam atingir inocentes, a conversa tropeçou na tolerância com o tráfico, o que - revelou o tal especialista - ocorre naturalmente nas demais regiões 'pacificadas'.
     Nelas, segundo ele, a venda de drogas continua sendo feita, mas sem a ostentação de armas, sem risco de confrontamentos, sem violência. Uma convivência pacífica, já, que de acordo com o raciocínio atravessado do entrevistado, não será possível acabar com o tráfico, que existe em todas as partes do mundo. Em síntese: se o crime for executado de maneira discreta, tudo bem.
     Essa imbecilidade me dá o direito de imaginar que a sociedade deve tolerar um assassino que usa faca ou cordas como 'instrumentos de trabalho'. Afinal, não fazem barulho, como pistolas e fuzis, e a morte tende a ser resultado de um ato discreto.
     Seguindo esse raciocínio estúpido, drogas vendidas sem alarde não representam, sequer, ameaça à vida, à dignidade, de seus consumidores. Como também não contribuem com a geração de novos criminosos, nem com a promiscuidade que envolve policiais e bandidos.
     Promiscuidade, aliás, que ainda precisa ser bem apurada, no caso específico das denúncias do ex-chefe do tráfico na Rocinha, o Nem. Eu faço questão de saber quem é que ficava com a metade da receita da venda de drogas. Assim como espero pela apuração detalhada da tentativa de policiais de Maricá de interceptar o comboio que levava o traficante para a Polícia Federal.

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