quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um porto risonho e seguro

     Vejo com entusiasmo qualquer iniciativa destinada à recuperação da Zona Portuária do Rio de Janeiro, à sua reintegração, como ocorre em quase todas as cidades civilizadas do mundo. A proposta é à prova de críticas. O antigo Cais do Porto e seus arredores têm, sem a menor sombra de dúvida, uma vocação turística irresistível. Fico imaginando aqueles armazéns abandonados às margens da Baía da Guaranabara transformados em restaurantes, bares, lojinhas estilosas.
     Prevejo a nova paginação da rua de paralelepípedos que acompanha o mar e por onde passavam caminhões e vagões de trens carregados. Jardins, bancos, lampiões, pracinhas. A cúpula da antiga estação de passageiros dos tempos da Viação Costeira, ali no armazém 13, recuperada, transformada em porta de entrada para um pedaço incrivelmente bonito e desprezado da cidade.
     Para quem, como eu, nasceu na região (num sobrado da Rua Leôncio de Albuquerque) e viu a família crescer e viver no e do porto, chega ser emocionante. Menino ainda, não cansava de olhar o mar, debruçado na varanda e nos terraços da velha casa de meus avós, em uma ruazinha paralela à, na época, imponente Rua do Livramento, com o reluzente e revolucionário prédio da revista O Cruzeiro.
     A ponte Rio-Niterói não era sequer um sonho. Para chegar à antiga capital do Estado do Rio, de carro, só mesmo pelo longo caminho daquela que chamávamos de 'estrada do contorno', que circunda o fundo da baía, ou nas barcaças. Uma travessia bem romântica, se bem me lembro.
     A Prefeitura já andou mexendo nas imediações, abrindo espaço para barracões de escola de samba e uma coisa ou outra. Hoje, lançou o projeto de recuperação de dois galpões na Gamboa. É o caminho.
     Só temo pelo que pode vir, depois. Os exemplos de omissão do Estado são fragrantes e agressivos. Locais de enorme beleza, como a Praça da República e o Passeio Público - para ficar apenas em dois exemplos -, estão jogados à própria sorte, invadidos por 'moradores de rua', sujos, destruídos. Poucas pessoas se arriscariam, hoje, a cruzar o Campo de Santana.
     E quem pode ir, com tranquilidade, ao Corvovado? E ao Teatro Municipal, ou ao Museu de Belas Artes? Bandos de assaltantes travestidos de flanelinhas atacam os incautos, sem que haja repressão. Jovens e velhos assaltantes investem nas carteiras e celulares. Não há estacionamento digno em toda a cidade. Prevalece a ilegalidade, a extorsão. Os guardas municipais se omitem. A Polícia Militar se acha acima dessas pequenas mazelas.
     Quero, sim, uma nova Zona Portuária, desde que eu possa ir lá sem medo. Assim como quero de volta o Rio que já foi de todos.

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