terça-feira, 12 de julho de 2011

Amizade público-privada

     Se Sérgio Cabral Filho fosse, apenas, mais uma pessoa comum a viver uma crise conjugal, o caso não teria a menor repercussão. Separado da mulher, ele teria todo o direito de ir morar na casa de quem ele quisesse, ou de quem oferecesse abrigo. Mas Sérgio Cabral Filho é o governador do Estado do Rio de Janeiro e, nessa condição, não pode se dar ao - digamos - desfrute de usar apartamento emprestado por dono de banco. Simplesmente não pode
     Não me interessa se o dono do banco - Guilherme Paes, do Banco BTG Pactual - é irmão do prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, e, por tabela, amigo do governador. Essa espécie de parceria público-privada é inconcebível. Nossos políticos em geral, no entanto, têm esquecido com frequência os ensinamentos da história da mulher de César, aquela que não podia apenas parecer íntegra. Ela tinha que provar essa qualidade a cada minuto.
     Com o salário que ganha e sem ter praticamente despesas pessoais, nosso governador deveria ter se mudado, sim, para um hotel, um flat, ou fazer mais um beicinho e voltar para a casa da mamãe e do papai, pelo período necessário à reorganização do Palácio Laranjeiras, onde - dizem - pretende morar.
     Mas ele não se mudou apenas para um apartamento de um banqueiro amigo. Mudou para um apartamento na esquina da Avenida Delfim Moreira com Rua Rainha Guilhermina, um dos pontos mais caros e exclusivos dessa já tão exclusiva Zona Sul da cidade.
     Enquanto isso, vítimas dos temporais na Serra Fluminense - uma crise com dimensões bem mais profundas - apenas sobrevivem em abrigos, casas de amigos ou em áreas condenadas, como denunciou ontem o Jornal Nacional. E o que é mais grave: sabendo que os recursos para ajudá-los serviram para encher os bolsos de políticos da região.

2 comentários:

  1. Não concordo com muitas coisas, porém o fato de Cabral ter ido para o apto do banqueiro, não é algo que me preocupe, sabe, temos outros assuntos que mereciam a atenção que estão dando a este acontecimento muito chato na vida pessoal de Cabral. Enfim, pode ser realmente contra as regras, mas neste ponto penso que este código de conduta já existente deveria ser revisado e atualizado.

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  2. Não é o fato em si, Felipe, mas o simbolismo. Penso que há comportamentos inaceitáveis para servidores públicos, especialmente em cargos elevados. Quanto aos fatos pessoais que envolvem nosso governador, optei por deixá-los à parte, respeitando sua privacidade. Obrigado pelo comentário.

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