quarta-feira, 20 de julho de 2011

O sofá saiu da sala!

     O sujeito convida uma turma meio safada para fazer parte de seu projeto. Convida sabendo que os novos companheiros são especialistas em atividades não republicanas, conhecem os caminhos que levam aos recursos contabilizados ou - preferencialmente - não contabilizados, para usar um eufemismo (na verdade, estamos falando de dinheiro roubado, mesmo).
     Ele sabe que as estradas sempre têm duas mãos. A que vai buscar o dinheiro e a que volta com ele, e faz exigências. Na verdade, seus principais e mais antigos parceiros já aprenderam os caminhos há algum tempo, mas andaram fazendo bobagens. Uma simples extorsão de empresas de ônibus num município da Grande São Paulo virou caso de polícia, com o assassinato de um prefeito que - segundo a família - queria dar um basta na roubalheira.
     O casamento no início mostrou ser daqueles que têm tudo para durar uma eternidade. De um lado, os 'ideólogos' do assalto aos cofres públicos, argumentando, para suas consciências (se é que elas existem), que os fins justificam os meios. A roubalheira, afinal, ajudaria uma estrutura empresarial mais justa e, já que nem eles são de ferro, daria uma mãozinha para o pessoal pagar as contas, trocar de carro, melhorar de vida.
     Do outro lado, a turma especialista em afanar o que é dos outros, sem vínculos com projeto algum, o que a tornaria - na minha visão - menos canalha. "Se é para o bem de todos...", repetiam os profissionais, fingindo acreditar nas mentiras ditas pelos novos companheiros, a todo o momento.
     O acordo foi selado pelo conselheiro maior da empresa, uma espécie de Rasputin caboclo, com a supervisão do dono do negócio. Ficou decidido que a vice-presidência da empresa ficaria com um dos líderes dos novos amigos de toda a vida, que ganhariam, também, funções de destaque na empreitada.
     Foi um sucesso, com um escorregão no meio da subida da ladeira. O projeto cresceu e todos enriqueceram. Até o dia em que o ciúme começou a corroer a parceria. Uma briga aqui, outra ali. Uma ameaça mais forte e o vazamento de informações para os concorrentes, no entanto, surgiram como um ameaça ao futuro que já fazia tão promissor.
     O jeito foi obrigar a nova gerente-geral a mudar a fachada da empresa e a tirar o sofá da sala.

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