segunda-feira, 11 de julho de 2011

Resposta a um espanhol

     Vou tentar responder, mesmo sem ter sido convidado, à questão que o jornalista Juan Arias, correspondente do espanhol El Pais, faz hoje em O Globo. Juan, confrontado pelas reações em todo o mundo contra corrupção e desvios de verbas e de conduta, pergunta - em síntese - por que o brasileiro, que derrubou Collor, não reage à maré de escândalos que vem sistematicamente afogando os sentimentos de dignidade da nação.
     Antes, algumas observações nascidas da avaliação de seu texto. Acredito que o jornalista espanhol não tenha vivido intensamente os últimos 30 anos da vida brasileira. Não acompanhou a oposição impiedosa e massacrante feita pelo Partido dos Trabalhadores e seus braços sindicais ao governo Fernando Henrique Cardoso, desde o primeiro minuto de seu primeiro mandato. Não soube que o PT se recusou a assinar a Constituição de 1988.
     Certamente não leu o manifesto lançado imediatamente após a posse do ex-presidente, no seu segundo mandato, pedindo seu impedimento. Não assistiu, pela tevê, à invasão de uma propriedade da família do presidente, os móveis destruídos, a intimidade familiar profanada.
     Não deve ter visto, também, as cenas de vandalismo protagonizadas pelo PT e partidos insignificantes que gravitam a seu redor quando do processo de privatizações; as vidraças de ônibus, prédios e lojas comerciais quebradas pelo ódio; os pontapés covardes - literalmente falando - desferidos contra representantes de empresas estrangeiras e do governo. Não se esgueirou das pedradas, dos coquetéis molotov, da canalhice.
     Não ouviu os discursos do então candidato Luís Inácio, contra tudo e contra todos. O estelionato ideológico, as mentiras que foram ditas e anos depois retiradas, sob a alegação de que faziam parte de um processo eleitoral.
     Juan também não deve ter acompanhado com a atenção devida à montagem do esquema de manipulação dos fatos na Secretaria de Comunicação, entregue à sanha do senhor Franklin Martins, um especialista em gerar notícias que se sobrepunham à realidade, contando, claramente, com a benevolência de parte dos 'analistas políticos'.
     E, finalmente, não entendeu direito como é que funciona esse esquema de distribuição de renda moldado pelos estrategistas do Palácio, o tal do Bolsa Família. Nem como é a engrenagem que rega e robustece as lideranças dos movimentos e centrais sindicais e do MST, destinatários de verbas milionárias.
     Se a tudo isso tivesse vivido, talvez o surpreso jornalista espanhol compreendesse por que o brasileiro não reagiu ao Mensalão, aos aloprados que pagavam pela fabricação de dossiês, aos dólares na cueca, à quebra do sigilo bancário de um simplório caseiro, ao enriquecimento das estrelas petistas, à corrupção na Casa Civil e nos ministérios em geral, à demissão de ministros, à compra de apoio.
     Juan, 'tá' tudo dominado.

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