domingo, 3 de julho de 2011

Ouça Cartola uma vez por semana. Não há contraindicações

     "Ouça-me bem, amor;

     Presta atenção: o mundo é um moinho;

     Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos;

     Vai reduzir as ilusões a pó"

     Não encontro, na nossa música popular, versos tão brilhantes, emocionantes, profundos, amargurados. A cada vez que escuto Cartola, como agora, para escapar da agressão sonora que vem de algum vizinho distante, apaixonado por música (?) baiana, aumenta minha convicção de que Angenor de Oliveira foi alguém muito especial, uma daquelas pessoas que surgem a cada século e que deixam sua marca.
     Vocês já pararam para pensar que um sujeito quase analfabeto, favelado, nascido no começo do século passado (30 de novembro de 1908) escreveu, também, que "as rosas não falam, simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti"? E que, não satisfeito, alertou a "uma triste senhora" que o seu pranto iria "molhar o deserto"; além de pedir, a uma "romântica senhora", que não o deixasse "sucumbir nesse vendaval de paixão".
     Esperançoso, admite que, chorando, "viu a mocidade perdida". E ainda sofrendo, claramente, confessa à paixão do momento que teve, sim, "outro grande amor e que vivia tão contente, como contente ao lado dela estava". Mas se recusava a fazer comparações, para "não magoá-la".
     Ouvir Cartola deveria fazer parte das obrigações de todos nós, como tomar vacina. Se o Brasil ouvisse mais Cartola - e menos Lula - certamente ficaria imunizado contra a mediocridade. 

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