segunda-feira, 11 de julho de 2011

Uma estranha simbiose

     Notícias - vá lá - são apenas notícias, eu sei. Mas nem mesmo essa desculpa justifica textos como o publicado hoje no Estadão. Textos que parecem ter saído diretamente do computador da ministra Helena Chagas, da Secretaria de Cominicação da Presidência da República, a mente por trás da vergonhosa acusação que se fez ao caseiro Francenildo Costa, quando das acusações que levaram Antonio Palocci a ser demitido, pela primeira vez, em 2006.
     Para refrescar a memória dos leitores, Francenildo afirmara ter visto o então poderosísssimo ministro da Fazenda em uma uma casa bem tolerante, frequentada por diversos - digamos assim - 'estratos sociais', no Lago Paranoá, em Brasília. A atual ministra, na época chefe da sucursal de O Globo, soube, por um jardineiro, que o caseiro de Palocci havia recebido um bom dinheiro. E repassou a informação a Palocci, como se já fosse o que é hoje, uma empregada do Governo, e não uma jornalista independente.
     O então ministro, através da Caixa Econômica Federal, quebrou o sigilo do caseiro e o acusou de ter recebido propina para acusá-lo. Mentira. Ele frequentava, mesmo, a tal mansão. E o dinheiro era uma doação do pai biológico de Francenildo, uma reparação por não ter reconhecido o filho. Helena é ministra atualmente.
     Voltemos, no entanto, ao tema desse texto, a matéria que poderia tranquilamente ser divulgada como release, uma espécie de nota oficial. "Essa afirmação serve de resposta a alguns críticos que vinham se queixando dos gestos de afeto da presidente Dilma ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a alguns sinais de que ela poderia se afastar do governo anterior", afirma, sem pudor, o noticiário, e não a personagem da reportagem, a presidente da República.

     A tal afirmação não tem a menor importância, nesse contexto. A questão central - na minha ótica - gira em torno da simbiose de dois organismos que deveriam, por definição, serem de espécies diferentes. No caso específico, o Estadão está garantindo que Dilma Roussef, respondeu definitivamente a seus críticos, e ponto final.
     Certamente não foi essa a intenção do jornal, nem - prefiro acreditar - do repórter. Talvez a culpa esteja na pressa, na necessidade de colocar as notícias rapidamente na rede, antes dos concorrentes. Coisas dessa modernidade.

     ET: Nessa mesma ocasião - entrega do Prêmio Anísio Teixeira para professores universitários - a presidente, segundo o jornal, ressaltou que foi a "partir de 2003 que se deu a valorização do ensino público e que se passou a lutar por um processo mais sofisticado de educação". Certamente deveria estar se referindo à cartilha do MEC, aquela do 'nóis vai' e 'a gente vamu qui vamu'.

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