terça-feira, 19 de julho de 2011

Quando jovens se enfrentam

     Virou quase rotina. A cada fim de semana, novas notícias sobre brigas entre jovens e adolescentes, pelos motivos mais fúteis - quando há algum motivo. Essas divergências não são, na verdade, o que poderíamos chamar de novidades. Existem há anos. A diferença está no grau de violência, talvez proporcional aos novos padrões físicos da juventude e à sua preparação para embates físicos.
     Esse novo perfil do jovem das nossas cidades poderia explicar, eventualmente, o resultado da última briga: um rapaz de apenas 19 anos acabou no hospital, após ter cinco ossos do rosto quebrados em uma festa no bairro do Grajaú, Zona Norte do Rio. Afirmação, definição de espaços, ciúmes ou, simplesmente, prazer. Há falta de motivos lógicos para todos os gostos.
     Essa última 'ocorrência', além de me entristecer como pai e avô, me remeteu, com certa nostalgia, a um incidente, até certo ponto engraçado, em que estive envolvido, na juventude, suburbano de Marechal Hermes.
     Naquela época, nós, jovens de Marechal, sabíamos que havia limites geográficos bem definidos para nossa presença. Festas, com segurança, só mesmo no perímetro central do bairro, a nossa 'zona de conforto'. Sair, apenas em grupo, para festas em clubes fechados, sabendo que deveríamos evitar provocações.
     Num determinado fim de semana, no entanto, nosso grupo de amigos não teve como recusar um convite para uma festa de 15 anos - eram o máximo, nessa época - de uma amiga comum, que morava em ... Bento Ribeiro.
     Bento Ribeiro, para os que jamais se aventuram pelos caminhos da Central do Brasil, é o subúrbio imediatamente anterior a Marechal Hermes, saindo do Centro. Hoje, o limite de cada um é impossível de ser definido. Naqueles anos 1960, não.
     Mesmo sabendo do risco, fomos à festa. Chegamos cedo, aos poucos, e nos misturamos aos convidados 'locais'. Essa confraternização, entretanto, durou apenas até o momento em que um de nós não resistiu aos encantos de uma jovem amiga da aniversariante e a tirou para dançar, sem saber que havia outro pretendente.
     O alarme soou quase imediatamente. O jovem 'local', sentindo-se ferido, abandonou a festa e reuniu, do lado de fora, uma espécie de pelotão. É isso mesmo: em torno de 20 garotos formaram fileiras e começaram a desfilar - em ordem unida - em frente ao portão da casa onde ocorria a festa, deixando evidente o propósito de nos enfrentar, quando saíssemos.
     Daí em diante, vivemos momentos de muita tensão. Inferiorizados, sabíamos que o saldo do enfrentamento não seria bom. Alguns de nós certamente teriam que recorrer aos ofícios dos médicos de plantão no Hospital Carlos Chagas, no nosso bairro de origem. Até que alguém teve uma ideia brilhante: nomear um conhecido comum aos dois grupos - irmão da aniversariante - para negociar nossa saída. Deu certo.
     Saímos da festa em ordem, seguindo, sem saber, 'preceitos militares' para o recuo: não tão rapidamente, de uma forma que sugerisse covardia; nem vagarosamente, como se fôssemos arrogantes.
     Mesmo assim, fizemos a curva em direção à salvação - a estrada que beira a linha do trem - sob uma saraivada de gritos e pedras. Ofegantes - confesso que corremos desembestadamente, a partir de certo ponto - , chegamos fisicamente inteiros ao nosso bairro. Mas com o amor próprio arranhado.

2 comentários:

  1. Lembro-me muito bem desse imbróglio, Marco. Aquilo poderia ter resultado num entrevero de grandes proporções. Acho que as negociações para a retirada ficaram a cargo do Gilson e do Paulo Bastos. Desconheço os termos do acordo, mas o fato é que tivemos que correr de paletó e gravata por cerca de um quilômetro, debaixo de uma saraivada de pedras e dos mais escabrosos impropérios... Como foi bom chegar a Marechal ilesos, apesar de suados e esbaforidos... Nosso bando, inconformado, prometeu vingança aos agressores. Isso,felizmente, não ocorreu e o caso caiu no esquecimento, menos do nosso...
    Bons tempos!

    ResponderExcluir
  2. Bons tempos em que ainda conseguíamos correr de Bento Ribeiro a Marechal Hermes, Paulo.

    ResponderExcluir