terça-feira, 19 de julho de 2011

Um país assaltado

     Vou propor um misto de questão e exercício de imaginação: como poderia ser o Brasil, hoje, sem que tão poucos houvessem roubado tanto, de tantos, durante tanto tempo? As possibilidades, prevejo, são enormes, dependendo do quanto se quer voltar no passado.
     Se recuarmos aos primórdios do descobrimento, vamos encontrar um saque primário, no estilo do ladrão de galinha, voltado para o que mais facilmente se apresentava: o abundante pau-brasil, madeira usada nas cortes europeias para dar cor ao que por lá desfilava.
     Aos poucos, nossos governantes foram se refinando, à medida que avançavam pelo território selvagem. Os batedores de carteira foram dando lugar a exploradores mais ambiciosos, cujos olhos brilhavam ao se deparar com pedras preciosas, ouro e prata.
     A cobiça, nesse momento, agiu, também, como agente de consolidação do território, com o avanço dos pelotões que partiam do litoral em busca das riquezas espalhadas no interior. O próprio país, ainda colônia, começou a tomar forma, com a chegada de mais e mais levas de aventureiros, atraídos pelas possibilidades que se abriam nesse novo mundo.
     E assim se passaram séculos de aprimoramento das técnicas para exploração e exportação de riquezas nacionais. A essa altura, a grande massa da população estava absolutamente alijada da eventual distribuição de rendas, cada vez mais concentrada em grandes famílias, que se transformaram em enormes capitalistas, à frente (ou ao lado) de gigantes empresariais.
     A República, solução simplista para a definição de poder, não mexe nas estruturas da exploração. Mais um século se passa e o país assiste à consolidação do assalto aos bens públicos, ao avanço desenfreado nas riquezas, à multiplicação de escândalos, à desfaçatez dos governantes, em especial nos últimos oito anos, quando um projeto de poder - o do PT - justifica atos abomináveis, que tomaram forma e se estruturaram como entidade no advento do Mensalão.
     Rouba-se pouco - como no caso dos R$ 50 mil recebidos pelo então presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP) - e muito, como na abertura dos cofres rodoferroviários do Ministério dos Transportes aos partidos e pessoas amigas.
     Rouba-se sem a menor dignidade - se é que há alguma em se tratando de crime - o dinheiro destinado a amenizar tragédias, como a ocorrida no Rio de Janeiro, no início do ano, ou a verba destinada a equipar hospitais e escolas. O roubo, mais do que nunca, está consolidado no país.

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