quinta-feira, 3 de maio de 2012

Vigarices para todos os gostos

     O futuro imediato do ainda senador goiano Demóstenes Torres está nas mãos do Conselho de Ética do Senado. O senador Humberto Costa, do PT cearense, entregou hoje seu relatório pedindo abertura de processo por quebra de decoro, mas a votação só será realizada no próximo dia 8, segundo O Globo.
     Imagino que será uma votação apenas simbólica. Não há a menor chance de o ex-arauto da dignidade escapar da cassação por suas relações criminosas com o contraventor Carlinhos Cachoeira, reveladas nas gravações realizadas pela Polícia Federal. Por mais que o Senado relute em punir um dos seus membros, nesse caso deve prevalecer a justa revolta da opinião pública.
     A promiscuidade exibida nas conversas tem que ser punida exemplarmente. Já passou da hora de o Congresso - sim, as duas casas - mostrar um mínimo de dignidade, recuperando parte do respeito que vem se perdendo ao longo dos anos de acobertamento de vigarices.
     De fato, a última grande demonstração de seriedade e desprendimento do mundo político está perto de completar 20 anos: a cassação de Fernando Collor de Melo, o primeiro presidente eleito pelo voto direto após o período militar. É verdade que o onipresente José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do ex-presidente Lula, perdeu seu mandato de deputado federal, pelo envolvimento com o Mensalão. Em contrapartida, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) escapou.
     O maior desafio, no entanto, está sendo enfrentado na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito aberta para apurar as ligações de Carlinhos Cachoeira não apenas com o ainda senador Demóstenes Torres. As gravações de conversas do contraventor mostram que há também uma torrente de vigarices, pilantragens, roubos e assaltos aos cofres públicos escorrendo da empreiteira Delta, a queridinha de diversos governadores - os do Rio de Janeiro, Goiás e Distrito Federal, em especial - e do Governo Federal.
     O noticiário de hoje de O Globo exibe o crescimento estratosférico das relações da Delta com o Governo Federal, principalmente a partir da contratação, em 2009, dos serviços de 'consultoria' de José Dirceu, homem - ainda e cada vez mais - fortíssimo do PT, amigo de fé e "companheiro de lutas" da presidente Dilma Rousseff e mentor do ex-presidente Lula. Em poucos anos a empresa de Fernando Cavendish invadiu a Petrobras e tomou de assalto o Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit), do Ministério dos Transportes.
     O José Dirceu do Mensalão (era o "chefe da quadrilha", segundo a Procuradoria Geral da República), dos trabalhos para 'multinacionais', da abertura de portos seguros para as empresas dispostas e participar da nova era iniciada há 11 anos e quatro meses. Aquele mesmo a quem - segundo denúncias formais à Justiça dos irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel - era entregue a propina recolhida pelo atual ministro Gilberto Carvalho nas empresas de ônibus da cidade, usada para financiar campanhas do PT.
     Há, como se vê, uma convergência de vigarices em todos os escalões e para todos os gostos.

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