segunda-feira, 28 de maio de 2012

A blindagem de Lula

     Raríssimas pessoas no mundo - e não há exagero nessa afirmação - são tão protegidas e recebem tratamento tão gentil e amável quanto o ex-presidente Lula. Há sempre um grupo de - digamos - 'formadores de opinião' disposto a distorcer fatos, encontrar explicações onde só há atos condenáveis, passar a mão pela sua cabeça, sorrir de suas inúmeras bobagens, gargalhar com suas inconveniências, encontrar teorias onde só há mediocridade.
     Excetuando ditadores formais, em países onde não há liberdade alguma, especialmente de expressão, não houve, na história recentíssima do nosso mundo, algum dirigente que tenha escapado incólume de tantos escândalos, mentiras e revelações absolutamente comprometedoras. É verdade que o ex-presidente americano Bill Clinton conseguiu sobreviver à divulgação de suas estripulias sexuais, principalmente no caso de Mônica Levinski. Mas purgou até o último momento, submetido a um vergonhoso processo público.
     O ex-primeiro-ministro italiano, Sílvio Berlusconi, resistiu além do imaginável, mas, ao fim, recebeu o devido e merecido pontapé que o expulsou do comando do país. Durante meses seguidos, foi alvejado por revelações de seu comportamento indigno, corrupção. Não houve trégua, nem um milésimo da tolerância dispensada ao ex-presidente brasileiro.
     O mais recente e vergonhoso fato envolvendo Lula - a chantagem sobre ministros do Supremo Tribunal federal para beneficiar seus correligionários do Mensalão - vem repercutindo, sim, mas - até agora - de maneira tênue, pela dimensão do fato. Um exemplo claro? Não houve uma palavra na edição de sábado do Jornal Nacional, o mais influente veículo de informação brasileiro, pela abrangência. Também não escutei uma frase sequer sobre o caso ontem, nos momentos (confesso que raros) em que sintonizei a Rede Globo.
     Nos jornais, o caso levantado pela revista Veja - a cada semana aumenta o ódio de governantes e governistas à essa incontrolável liberdade de imprensa - vem tendo algum destaque, sim. Mas muito aquém do que julgo merecer. Afinal, um ex-presidente que continua decidindo os rumos do país - é (pobre Brasil...) o mais importante político nacional - tentou chantagear ministros para beneficiar a si mesmo, seus companheiros e seu partido, o indefectível e enlameado PT.
     Mesmo confrontados pela evidência, pela revolta provocada no âmbito do STF, os personagens de sempre, regiamente pagos pelo Planalto, através de patrocínios indecorosos, já estão em ebulição, encontrando justificativas, desmerecendo os acusadores, numa tática antiga e comum em advogados de pilantras. Cumprem seu papel, indigno, sim, mas que faz parte do jogo, especialmente de um jogo que movimenta fábulas em verbas públicas.
     Essa condescendência com o ex-presidente e - por extensão - com seus seguidores, vem de longe, tudo em nome de uma difusa causa que o tempo vem mostrando que se limita a assaltar o Estado, dominá-lo. Não foi a primeira, nem a segunda - longe disso - incursão do ex-presidente e de seus parceiros de sempre no terreno da ignomínia. O Mensalão é, apenas, o exemplo mais evidente da dissolução moral institucionalizada no país nos últimos nove anos e meio.
     A chantagem de agora é apenas mais um viés da impunidade conferida a Lula, por seu histórico de vida. Como se o fato de ser nordestino, pobre e imigrante justifique todos os atos indignos que cometeu e comete. E vou me poupar de relembrar um dos mais deploráveis, divulgado por um correligionário acima de qualquer suspeita. Basta ficarmos no plano 'político'.

2 comentários:

  1. Excelente análise, Marco. Discordo apenas quando você considera a causa desse lulopetismo como difusa e destinada apenas a assaltar o Estado, para dominá-lo. Muito mais que isso, e ainda mais grave: ela segue um bem dissimulado propósito ideológico.

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  2. Usei a expressão 'difusa', Paulo, no sentido de indefensável, historicamente soterrada, inconsequente. Obrigado pelo comentário gentil.

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