sábado, 26 de maio de 2012

A parceria petista com a privada

     Há notícias que se autoexplicam a partir do título. O texto, em si, serve, 'apenas', para detalhar o que o fato exibe, sem subterfúgios. É esse o caso de uma das manchetes de hoje de O Globo: "Partido dos Trabalhadores teve R$ 50 milhões em doações em 2011". Os números são esses mesmos, estarrecedores. O partido da presidente da República colocou nos cofres uma fortuna, vinda, em especial e principalmente, das grande empresas que prestam serviço ao Governo.E tudo isso, em um ano sem eleições.
     "Tudo Legal", apressou-se a dizer a assessoria de imprensa de Ruy Falcão, o presidente do PT, inimigo número 3 dos que tentam condenar os quadrilheiros do Mensalão (os dois primeiros são, sem a menor dúvida, o ex-presidente Lula e seu ex-ministro da casa Civil José Dirceu). Ele - mais do que pessoas comuns - sabe que o fato de algo ser legal não impede de ser imoral. No caso específico das 'doações' empresariais ao PT, é algo imoral e deletério, que engordou seus cofres e praticamente saldou as dívidas históricas do partido, entre elas, uma com o Banco Rural, ainda dos tempos do Mensalão.
     A imoralidade fica ainda mais explícita e indefensável quando ficamos sabendo o valor das doações que as tais empresas (todas elas com estreitísimas ligações com obras e quetais) fizeram aos demais partidos: pouco mais de R$ 2 milhões ao PSDB e ao PMDB, por exemplo. Por baixo, o PT vale, hoje, 20 vezes mais do que o PMDB, normalmente apontado como depositário de quase todas as malandragens e malfeitos nacionais.
     O Globo destaca ainda - com rara acuidade - que as principais empresas amigas do PT pertencem aos setores de construção civil (olha o PAC aí, como sempre!!!); setor financeiro (bancos amigos e cada vez mais lucrativos); energia (construtores e fornecedores das novas usinas hidrelétricas): e frigoríficos. Nesse último item, chama a atenção o destaque do frigorífico JBS - o quinto maior doador!!! -, que recebeu aporte milionário do BNDES e, há poucos dias, decidiu comprar a Delta Construtora, a filha pródiga do PAC, e envolvida até a medula no escândalo que envolve o contraventor Carlinhos Cachoeira, políticos em geral e governos (municipais, estaduais e federal) em especial. É muito coincidência ...
     Outro exemplo, destacado na matéria, é emblemático. A construtora Andrade Gutierrez, principal 'doadora' do PT ano passado (R$ 4,65 milhões), foi a que mais embolsou dinheiro público: R$ 393,2 milhões.
     Não é preciso ser um Maquiavel para entender essa engrenagem. Um grupo de empresas acusadas formalmente de falcatruas - sobrepreço, atrasos, corrupção de políticos - decide dar suporte financeiro ao partido oficial, exercendo seu "direito democrático de escolha", diria Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do Mensalão, se abrisse a boca, o que não fez quando deveria.
     Como a CGU anunciou há poucos dias que a maioria absoluta das obras fiscalizadas registra pilantragens, podemos deduzir - sem risco de estar cometendo injustiças ou ilações sem lastro - que parte expressiva do dinheiro roubado dos cofres públicos está sendo transferida diretamente ao Partido dos Trabalhadores, seus candidatos e afilhados. Um assalto institucionalizado, como o que foi executado no Mensalão do Governo Lula.
     E "tudo legal", como explicou o Partido, com a indecência que vem caracterizando suas ações nas últimas duas décadas, pelo menos. Nós pagamos impostos; o Governo (por desídia e/ou cumplicidade) desvia parte do dinheiro para empresas (através dos tais sobrepreços, aditivos etc); e as empresas repassam o roubo ao partido do Governo, já 'lavado' e regularizado. É coisa de gênio.  A expressão mais vigorosa do que podemos chamar de parceria do que é público com a privada.

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