quinta-feira, 24 de maio de 2012

O país da chicana

     Para quem duvidava que o ainda senador Demóstenes Torres, do DEM, pode escapar da merecida e esperada cassação, a notícia publicada hoje, em O Globo - sobre os conchavos e acertos em andamento no Senado - é de arrasar. O parceiro do contraventor Carlinhos Cachoeira precisaria, apenas, de mais 11 votos para manter o mandato e continuar agredindo a dignidade do país.
     Hoje, pelas contas de Demóstenes e de sua trupe, já existe o compromisso de 30 senadores, que se sentiriam acobertados pela prática deletéria do voto secreto. Chegar a 41 (um a mais do que a metade exigida nas cassações) não parece tarefa difícil, a julgar pela recepção que o ex-arauto da dignidade teve ontem: foi cumprimentado, no plenário, por gente de todos os partidos. Do 'seu' DEM, ao 'ínclito' PT, passando pelo indefectível PMDB e pelo PSDB.
     E foram cumprimentos públicos, daqueles posados para as câmeras de jornais, revistas e tevês. Quando Eduardo Suplicy - um dos maiores expoentes do PT - levanta para dar um aperto de mão no mais recente símbolo da indignidade política, marca o descompromisso com os valores que deveriam nortear a política. Referenda que tudo é possível e aceitável nessa nossa pobre República, onde a falta de escrúpulos se consolidou e foi entronizada há nove anos e meio.
     Só o fato de essa possibilidade - a da absolvição de Demóstenes - ser considerada já é um fator de extrema preocupação, em virtude do acúmulo de provas de sua ação promíscua e vagabunda com uma quadrilha. Em um país que se pretende sério, essa hipótese sequer estaria sendo levada em conta.
     Vivemos, no entanto, lamentavelmente, um longo momento de desagregação moral, no qual a corrupção foi institucionalizada e defendida com argumentos supostamente ideológicos. Não é apenas o vulgar "rouba mas faz", consagrado nas referências ao ex-governador paulista Ademar de Barros. A questão é mais ampla e pilantra, mas encontra ecos entre o que se convencionou chamar de 'intelectualidade de esquerda': rouba-se, mas por uma 'boa causa'.
     Essa filosofia absolveu politicamente o ex-presidente Lula, o maior beneficiário do Mensalão. Essa mesma postura mantém o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, apontado como "chefe da quadrilha que assaltou os cofres públicos", blindado por um séquito de próceres da 'esquerda', seja lá o que isso for hoje em dia. Essa mesma subserviência - regiamente paga, em muitos casos - faz com o país tenha convivido e ainda conviva com a maior série de escândalos de sua história recente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário