domingo, 20 de maio de 2012

O fator Delta (2)

     Para mim, a notícia vai além da eventual perda, pela Delta Construções, de R$ 1,2 bihão de contratos em andamento, com o Governo Federal, como destaca, hoje o Estadão. Minha indignação maior refere-se ao fato de uma empresa claramente envolvida com corrupção, sobrepreços e manipulação de concorrências ter chegado ao topo do ranking de parcerias com o Executivo, exatamente nos últimos três anos.
     Para ser mais incisivo, o desencanto é saber que ela, a Delta, só chegou a esse ponto exatamente por usar meios escusos, cultivar relações não-republicanas, cortejar poderosos, patrocinar candidaturas e partidos. Enfim: exercer o que há mais degradante na vida nacional, conspurcada por essa atordoante simbiose entre Poder e corrupção.
     Como não poderia deixar de ser, o grosso dos negócios da Delta refere-se a contratos com o malfadado Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte, o Dnit, aquele mesmo envolvido em pilantragens de todos os calibres, principalmente ao longo do ainda breve e já tão tumultuado governo Dilma.
     A Delta também tem uma presença muito marcante em outra joia da coroa petista: a transposição das águas do Rio São Francisco, obra que deveria estar concluída há dois anos, pelo menos, vem sendo aditivada por novos contratos - vitaminados - e ainda não tem data certa para terminar. Assim como brilhava na Petrobras e no Governo do Rio de Janeiro.
     Todos esses tentáculos exibem o grau de dissolução das nossas instituições, atropeladas pelos interesses mais mesquinhos, vigaristas. Não foi à toa - nem por ser uma apologista da democracia e das eleições livres - que a Delta 'doou' uma fortuna para recentes campanhas do PT e PMDB. Ou alguém imagina que o dinheiro 'doado' tenha saído do bolso dos donos da empresa?
     Afinal, é também para esses fins que servem os tais sobrepreços (roubalheira pura e simples) e aditivos. As vergonhosas 'comissões' acertadas em desvãos de escada ou em encontros secretos deram lugar a uma indústria de canalhices, institucionalizada nos últimos nove anos.
     O assalto aos cofres públicos flagrado no Mensalão do Governo Lula renovou-se e adotou posturas mais profissionais. E explica a determinação da tal 'base governamental' em reduzir as investigações da CPI do Cachoeira e uma singela punição ao ainda senador Demóstenes Torres e, quem sabe?, uma pena leve para o contraventor, parceiro de tanta gente.
     Os advogados, sem dúvida, são experientes em lidar com malfeitores - especialmente o ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos. Os 'juízes' normalmente são - digamos - 'condescendentes' com seus pares. E ainda corremos o risco de ver um delegado ou outro transferido para uma fronteira distante.

 


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