quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Rio a menos de cada dia

     Acredito que está na hora de falar a sério sobre a Rio+20 que se aproxima e desperta - pelo que lemos em toda a parte - arroubos infantis e dissociados da dura realidade do meio ambiente, vivida aqui mesmo, na sede do encontro, uma das cidades mais cantadas e decantadas em todo o mundo.
     Eu sei que escancarar nossas problemas recorrentes não é politicamente agradável, nem bem aceito. O Rio do imaginário é aquele das paisagens de cartão postal, do Pão de Açúcar emoldurando a Baía de Guanabara, das praias da Zona Sul, da Lagoa, do Cristo. Uma cidade perfeita, ao menos nas fotos.
     Nossas tão vivamente festejadas praias passam de 70% a 80% do tempo impróprias para o banho de mar. E não estou falando das abandonadas praias da Baía de Guanabara (Flamengo, Botafogo, Ilha do Governador ) ou do fundo da Baía de Sepetiba. Essas, todos nós sabemos que são meros depositários de esgoto e lixo. Eu me refiro a Copacabana, Ipanema e Leblon. Se o distinto público se desse ao trabalho de ler o quadrinho publicado pelo jornal O Globo, diariamente, sobre as condições de balneabilidade de nossas praias, não encostaria o pé em suas águas, caldo de cultura para doenças de todas as espécies.
     As tão decantadas coleta seletiva e reciclagem estão limitadas a uma parcela ínfima da cidade. No geral - 95% -, quase todo o lixo produzido por aqui vai mesmo para o mesmo lugar, sem separação ou qualquer cuidado ambiental.
     O mundo da fantasia é tão envolvente que, a julgar pelas peças publicitárias que nos são impostas pela goela, o cuidado é a regra, enquanto o abandono é a exceção. O exemplo de Pedra de Guaratiba, que poderia ser aplicado à quase totalidade das Zonas Oeste, Norte e Subúrbios, é um retrato do descaso público com o meio ambiente.
     A coleta de lixo, que é feita regularmente - é preciso deixar claro -, não obedece a qualquer conceito seletivo. Particularmente, tento dar minha contribuição, separando jornais e embalagens de de plástico, metal e vidro. À toa. Vai tudo para o mesmo carrinho e, dele, para os aterros.
     E o esgoto? Assim como na Baixada Fluminense, o rejeito da Zona Oeste e favelas em geral desemboca diretamente nos córregos, rios e praias, dividindo caminho com as águas pluviais.
     Como se pode ver, nossos males são bem mais prosaicos do que as preocupações mais elaboradas com o futuro do planeta. Nossas questões são presentes, mantendo-nos no passado.

Um comentário:

  1. Mais uma vez concordo plenamente com sua opinião. Uma das coisas que mais me causam indignação é a coleta seletiva da Comlurb, aos sábados, na minha rua. Os prédios separam em sacolas vidro, papel, papelão, ferro velho e plástico PET. O caminhão triturador da empresa pública passa e joga tudo na mesma pá mecânica, esmagando e misturando o material. Fico me perguntando: será que lá na estação de tratamento do lixo tudo é separado de novo? Não haveria outra solução mais racional? (Paulo Fernando)

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