sábado, 5 de maio de 2012

A vigarice premiada

     Andressa Mendonça, mulher do contraventor Carlinhos Cachoeira, sem prever - e isso ficou bem claro na entrevista que concedeu ao jornal O Globo - fez um questionamento cuja resposta, pelo menos a minha, sugere exatamente o contrário do ela pensa sobre o tema. Querendo minimizar a situação do marido, perguntou, literalmente: "Quem não passa por isso. Quem está livre de ser preso?"
     Certamente ela pretendia reforçar a ideia de injustiça, de fatalidade, de imprevisibilidade. A resposta que ela pretendeu embutir na pergunta seria simples: ninguém estaria livre de passar por um momento desses. Não concordo. Há, sim, quem consegue surfar acima dos pecados. Basta olhar os recentes (nove anos)escândalos envolvendo o primeiríssimo escalão da República, durante os governos Lula e Dilma Rousseff.
     Corrupção desenfreada, suborno, desvio de recursos públicos são a tônica do noticiário que exala dos diversos níveis de governo, de todos os poderes, sem que os acusados tenham sido presos, como Cachoeira. Sequer foram julgados. No caso da quadriha do Mensalão de Lula, somente agora, seis anos depois, o caso deve, afinal, ser apreciado pelo Supremo Tribunal Federal.
     Durante todos esses anos, seus (do Mensalão) princípais artífices continuaram participando, de alguma forma, das decisões governamentais, do Poder. Todos os demais malfeitores que se seguiram - os 'aloprados' que falsificaram dossiês, os ministros e/ou funcionários pegos com a mão no cofre, os transportadores de dinheiro na cueca, os cobradores de propina para campanhas, os ladrões vulgares - sequer sofreram o contratempo de uma investigação para valer.
     Não podemos esquecer - jamais - que os recentes ocupantes da Casa Civil (José Dirceu, Dilma Rousseff, Antonio Palocci e Erenice Guerra) escaparam de maiores contratempos. Até o ex-presidente Lula conseguiu driblar (por pouco) o risco de perder o cargo, em nome da 'governabilidade'. Dirceu (PT) foi cassado, é verdade, mas continuou transitando livremente pelos corredores do Poder. José Arruda (DEM), ex-governador do Distrito Federal, foi preso. Mas são as exceções à regra, assim como o próprio Cachoeira.
     Nesse Brasil do século 21, a vigarice vem sendo premiada.

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