sexta-feira, 4 de maio de 2012

A taxa de risco

      Cultivo, por formação, restrições a tudo que é imposto, determinado de cima para baixo, sem intermediações. Não tenho boas relações com um Estado paternalista, adiposo, cheios de tentáculos e tentado a decidir os rumos da minha vida, sem me consultar. Quanto menos Estado, para mim, melhor. As nações devem traçar seus próprios rumos, desde que não extrapolem a ordenação jurídica, o respeito à Constituição.
     Essas premissas valem, também, é principalmente, para a economia, que deve ter regras, sim, mas ser flexível o suficiente para acompanhar as mudanças, se adaptar a novas realidades. A queda da taxas de juros exercida no Brasil é um exemplo. O país vem exigindo isso há muito tempo, inconformado com o fato de viver pressionado por uma espécie de agiotagem institucionalizada, na qual alguns ganham - especialmente banqueiros e governo - e muitos perdem, a população em especial.
     Por ser o resultado de um processo que já vem amadurecendo e que responde às expectativas mínimas da cadeia produtiva, o estímulo ao crédito, via redução das taxas, é algo louvável. Corresponde, também, à necessidade de enfrentar um momento especialmente turbulento do mundo, com reflexos visíveis na nossa economia, especialmente na indústria, que vem apresentando resultados negativos.
     O conjunto da obra, no entanto, me assusta. A queda de braços com o sistema bancário, embora muito palatável, está jogando com a estabilidade de duas instituições que deveriam pairar acima de qualquer turbulência: o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, usados como instrumentos de pressão. Ambos já começam a dar sinais de que foram atingidos. O achatamento das taxas de juros, feito de maneira tão drástica, pode - e isso é um fato - criar uma enorme bolha que tenderá a explodir com a inadimplência.
     Com a redução do tal do 'spread' (a diferença entre a taxa paga na captação e a recebida nos empréstimos), cairá, também, a margem de segurança, o contrapeso à inadimplência, o que poderá geral instabilidade. O foco é evidentemente positivo, as medidas, nem tanto. O país já não aceitava conviver com esse disparate. Mas, nessa cruzada, o Governo não abriu mão das 'suas' taxas, da sua arrecadação. É uma aposta elevada - com evidente apoio popular -, mas que pode acabar sem vencedores.

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