quarta-feira, 9 de maio de 2012

Nadando na lama

     Os primeiros depoimentos na CPI do Cachoeira - que deveriam ser públicos - apontam para uma eventual pusilanimidade do procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Segundo um dos delegados da Polícia Federal ouvidos ontem, o procurador teria apresentado restrições legais ao prosseguimento de uma investigação - a Operação Vegas -, que incriminaria, desde 2009, o ainda senador Demóstenes Torres, arauto do Democratas.
     Com isso, cresce a pressão para a convocação do procurador, especialmente por parte da turma empenhada em facilitar a vida da quadrilha que assaltou os cofres públicos, no espisódio do Mensalão do Governo Lula. Gurgel manteve a acusação contra o bando liderado pelo ex-ministro José Dirceu (eu continuo achando acho que Dirceu era apenas o subchefe) e passou a ser odiado por todos os parceiros dos mensaleiros, encantados com uma chance como essa, que pode gerar desconfianças sobre um dos acusadores da quadrilha, facilitando a defesa de indefensáveis.
     Entre os maiores acusadores de Gurgel desponta o ínclito ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Melo, aliado formal do petismo, amigo de todas as horas da companheirada. Além de liderar o movimento contra o procurador, o primeiro presidente da história do Brasil a ser cassado por corrupção é o destaque maior da investida contra a liberdade de imprensa em geral, Veja em especial.
     Ele não perdoa os "rabiscadores" que ajudaram a exibir a sujeira que existia no seu governo. Não consegue esquecer a entrevista publicada na revista, em maio de 1992, na qual seu irmão, Pedro Collor, revelou a podridão do mundo palaciano e serviu de base para o processo de impeachment. É um ódio seletivo, pois há muito tempo perdoou seus maiores detratores, todos do PT, agora intercolutores e parceiros íntimos.
     É fundamental - e isso não está em discussão - que tudo seja apurado com rigor, inclusive possíveis deslizes do procurador-geral. Ninguém pode ficar acima de investigações. A lama que escorre desse relacionamento promíscuo entre contraventores, políticos e governos deve ser remexida até o fim. Mas não pode - e esse é o maior objetivo imediato do PT e assemelhados - servir de cobertura para livrar quadrilheiros do seu encontro com a Justiça.

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