quinta-feira, 3 de maio de 2012

Poupança ameaçada

     Um dos meus personagens favoritos, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, cumpriu mais uma de suas tarefas como obreiro do PT: defendeu enfaticamente a decisão do governo de mudar as regras da correção das cadernetas de poupança. Com a serenidade de papa da seita que cultua o ex-presidente Lula e, por extensão, sua sucessora, a presidente Dilma Rousseff, o ex-seminarista afirmou, segundo a Folha, que o objetivo é "criar as condições para baixar os juros e continuar financiando a produção em condições adequadas".
     Para ser exato, segundo o texto do jornal, o ministro teria falado em "abaixar" os juros. Confesso que fiquei na dúvida e optei por corrigir a expressão. Não duvido que o porta-voz do Governo tenha se equivocado. Esse tipo de engano é uma das marcas da Era Lula, aquela que inaugurou uma nova língua portuguesa. Mas passa ao largo da dimensão política de uma mudança na poupança, a forma mais popular de investimento.
     Ninguém - em um passado não muito distante - teria ousado, sequer, pensar nisso. Mexer na poupança, sob qualquer circunstância, seria o equivalente a um suicídio político. Imaginem as diatribes que seriam lançadas pelo PT e assemelhados, os discursos iracundos de Lula, as passeatas, artigos inflamados, os abaixo-assinados liderados por Conceições Tavares e Emíres Sades.
     Já vejo as manchetes: "Povo é traído"; "Mais um assalto à poupança" (remetendo ao confisco decretado pelo merecidamente cassado ex-presidente Fernando Collor de Melo, atual senador por Alagoas e um dos maiores inimigos da liberdade de expressão). No poder, o PT desmente tudo o que pregava. E não estou me referindo apenas à roubalheira em escala industrial montada no Governo.
     A decisão de mudar as regras da poupança - com a qual não concordo -, no entanto, tem seus defensores. Com a redução da taxa de juros, a remuneração das aplicações tenderia a perder atrativos, gerando a migração para a poupança e problemas sérios para o Governo, que precisa dos recursos para se financiar. Essa tese, no entanto, é contestada por outra corrente de economistas, que não enxerga esse perigo e acredita que a migração seria insignificante, pois não levaria com ela os grandes aplicadores, para os quais as aplicações continuariam a ser rentáveis, mesmo com a carga de impostos que não onera a poupança.
     Além disso, esse grupo acena com algo mais direto e que não avançaria no bolso do poupador: a redução da ganância governamental. Eu, além de me alinhar - em tese - com esse pensamento, baseio minha discordância em algo mais 'simplório': a história. Não se mexe em algo que nasceu no Império e se consolidou, pela simplicidade, apesar de todas as crises.

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