domingo, 27 de maio de 2012

Censura, nunca mais!

     Lamento, diariamente, ler seguidas, raivosas e totalitárias manifestações favoráveis aos 'mecanismos de controle da liberdade de expressão', um eufemismo vagabundo para um dos instrumentos mais nocivos à liberdade e à autodeterminação dos povos: a censura. Quem, como eu, viveu e trabalhou sob o jugo do arbítrio (com censores rabiscando, cortando e proibindo), sabe os males que são gerados pela ingerência do Estado no direito à informação, que deve ser ampla e plural.
     Censura só interessa a ditadores, regimes autoritários e criminosos, como os de Cuba, Coreia do Norte, China e Irã, para ficar apenas em alguns dos piores exemplos. Essa relação poderia ser ampliada com modelos mais próximos de nós, como o da Venezuela chavista e o da Argentina kirchnerista, candidatos aos primeiros lugares do pódio da mediocridade, do cerceamento das críticas, da célere corrida em direção ao mais profundo e vergonhoso atraso.
     As nações dignas e os exemplos históricos mostram que não há melhor controle da qualidade da informação do que o exercido pelo distinto público que se dispõe a comprar seus jornais e revistas e/ou a acionar os botões de seus aparelhos de tevê e de rádio. Particularmente, não posso sequer imaginar que, no século 21, depois de ter passado por duas décadas de governos autoritários, corro o risco de ser tutelado por conselhos ou quetais, que julgariam o que eu posso, ou não, ler, ver, ouvir e escrever.
     Infelizmente, não é o que pensam e repetem os representantes dessa era melancólica que se abateu sobre o que podemos, genericamente, classificar de consciência nacional. Com a mediocridade que caracteriza nossos governantes e acólitos, assistimos, a todo momento, a manifestações de servilismo partidas de segmentos que - por sua própria vocação - deveriam estar na dianteira na luta pela liberdade mais ampla, geral e irrestrita, especialmente a de pensamento.
     Poucas coisas podem ser mais lamentáveis do que jornalistas e 'inteletuais' em geral que pregam a censura, o desprezo pelo contraditório, o abafamento de opiniões discordantes, o deletério 'controle social da mídia'. Não é novidade, entretanto, que muitos desses defensores do arbítrio são pagos para cumprir esse papel deplorável de submissão a projetos de poder, patrocinados diretamente pelo dinheiro dos impostos e contribuições sindicais compulsórias de todos nós.
     É sintomático, pelo seu simbolismo, que a liberdade de expressão tenha que ser defendida, como o foi hoje, no jornal O Globo, por uma senadora (Kátia Abreu, do PSD) normalmente apontada como de 'direita', seja lá o que isso for. Os 'esquerdistas' - e a cada escândalo, como o do Mensalão, roubalheira, corrupção institucionalizada e sobrepreços mais sabemos o que isso quer dizer - lutam hoje em outra trincheira, a da coação à liberdade.
     Censura, nunca mais!

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