domingo, 6 de maio de 2012

A cara da CPI

     A semana que começa hoje, de direito; amanhã, de fato (para os mortais normais); e na terça-feira para a turma do Congresso, pode determinar o grau de seriedade dessa infeliz República dominada há nove anos pela demagogia mais chula, pelo populismo mais provinciano, pelo rebaixamento intelectual. A CPI do Cachoeira deve demonstrar a que veio, mostrar sua verdadeira cara. Ou afivelar, de vez, a máscara da vigarice que parece estar sendo moldada.
     De instrumento de vingança elaborado pelo ex-presidente Lula, a Comissão passou - a partir dos desdobramentos, de cada trecho de conversa vazado - a ser uma enorme dor de cabeça para o Governo e seus aliados de primeira hora. Quem imaginava punir apenas a pilantragem do ainda senador Demóstenes Torres (DEM) e do ainda governador goiano Marconi Perillo, do PSDB , viu-se atropelado pela inclusão da construtora Delta nas investigações. Logo ela, a empresa queridinha do PAC - uma espécie de 'neta' da presidente Dilma, entronizada na campanha passada como a 'mãe' do programa - e parente 'muito próxima' do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB.
     Criada à semelhança do ódio do ex-presidente e de outros petistas envolvidos no escabroso caso do Mensalão a seus adversários do passado -, o monstro, a exemplo de um Frankenstein, ameaça virar-se contra seu criador e suas criatura e socializar a matança. Vai ser difícil explicar à sociedade que a companheirada não pode ser convidada a depor, apenas os malfeitores dos partidos adversários, num processo seletivo de culpados. Não é assim quer o sistema funciona em um país onde prevalece a liberdade de imprensa, o direito à livre expressão.
     Daí o horror que a turma que está no Poder dedica ao que chama de 'mídia'. Essa gente sabe que não vai conseguir ocultar os previsíveis e já apontados fatos desabonadores envolvendo seus parceiros de toda a hora. Os contratos da Delta com os governos municipais, estaduais e, principalmente, Federal não poderão ser encobertos com discursos fascistas como os do atual presidente nacional do PT, Rui Falcão, acompanhado bem de perto - em suas investidas raivosas contra jornais, revistas e jornalistas - pelo ex-presidente Fernando Collor de Melo, senador por Alagoas.
     Os dois estão irmanados e unidos na luta contra quem ousou, no passado, e ousa, no presente, denunciar suas falcatruas. São muito parecidos, não tenho a menor dúvida.
     Nesse processo todo, a turma palaciana conta com a 'capacidade jurídica' de Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da 'Justiça' de Lula e advogado do contraventor Carlinhos Cachoeira (vejam como os personagens se misturam). A tarefa não parece ser das mais fáceis: libertar o contraventor e convencê-lo a calar, quando for depor na CPI. Não será fácil. Se ele cala, deixa de incriminar os inimigos do rei. Se fala, pode comprometer os amigos.
     A população está atenta à CPI. Seria necessário tirar uma ninhada de coelhos da cartola para desviar o foco nas investigações. Não apenas um ou outro, por mais charmosos e oportunos (ou oportunistas) que sejam.

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