quinta-feira, 12 de maio de 2011

Que venham os importados

     Leio no 'Estadão', com certo temor, a notícia assinada pela repórter Raquel Landim sobre barreiras à importação de veículos e autopeças, numa evidente manobra protecionista, destinada, em especial, a retaliar a Argentina, que está retendo mercadorias brasileiras nos postos de fronteira. A medida, entretanto, atinge os demais países exportadores, como Japão, Alemanha, China e Coréia do Sul, por exemplo.
     Sinceramente, achava que essa página da nossa história já estava definitivamente virada. A liberação das importações - talvez a única boa medida do lamentável Governo Collor - funcionou, para o brasileiro, como uma espécie de reedição da 'abertura dos portos às nações amigas', assinada pelo então príncipe regente, o futuro D. João VI, em janeiro de 1808.
     Quanto mais livre um mercado, mais competitivo ele é. E o mercado automobilístico é uma prova da importância da competição, do acesso a novas tecnologias embarcadas. Saímos do tempo das diligências para uma era de relativo respeito ao consumidor, não mais obrigado a engolir sucatas repaginadas. O motorista brasileiro descobriu rapidamente as vantagens de carros mais modernos, menos poluentes, mais seguros. Essa evolução só não se deu em relação ao preço. Nossos carros continuam entre os mais caros do mundo.
     Particularmente, tive duas evidências absolutamente claras e chocantes do chamado 'custo Brasil', a enorme e injustificada carga tributária que consome cinco meses de salário de cada brasileiro. Chegando à Itália, para visitar uma das fábricas da Fiat, me deparei, em uma praça de Turim, com um lançamento da montadora, no país: o Palio Weekend, produzido em Betim, Minas Gerais, e que já rodava por aqui.
     Quis saber o preço e fui atropelado por um disparate: aquele veículo saía da fábrica em Betim (MG); rodava centenas de quilômetros até o porto de Vitória; embarcava para uma enorme travessia oceânica; e chegava ao consumidor italiano por um preço ligeiramente inferior ao cobrado no Brasil.
     No Japão, em uma pequena cidade do interior, fui atraído pelos anúncios de alguns modelos da Honda, que ainda não montava seus carros aqui no Brasil. Pois o modelo mais carro, completíssimo, custava pouco mais da metade do que era cobrado em nosso país, pelo similar mais simples.
     A evolução dos nossos veículos, provocada pela chegada dos importados, embora não tenha reduzido devidamente essa distorção, ao menos possibilitou a oferta de produtos atuais, não mais subprodutos de linhas de montagem desativadas.

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