terça-feira, 17 de maio de 2011

Dois atentados ao pudor

     A primeira página da Folha é simbólica. Na manchete, a informação dando conta que a Comisssão de Ética e Política Pública da Presidência da República desmentiu o ministro Antônio Palocci. Na verdade, o chefe da Casa Civil, ao contrário do que afirmara, não mencionou a compra do apartamento de R$ 6,6 milhões e do escritório de quase R$ 900 mil, quando assumiu o cargo. Aliás, ter mencionado, ou não, não faz a menor diferença. Os imóveis existem e são dele. Ele tem que explicar como conseguiu comprá-los, com o salário de deputado federal. E que consultorias ele prestou, enquanto 'trabalhava' no Congresso.
     Logo abaixo da manchete, compondo o espaço, como se único fosse, a foto do diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, em um tribunal de Nova Iorque, aguardando o pronunciamento e a decisão do juiz, que o manteve preso em virtude das denúncias de assédio sexual feitas por uma camareira do hotel onde se hospedava.
     Dois momentos significativos e que mereceram tratamento oficial tão distintos. Nos Estados Unidos, um simples juiz criminal decidiu manter no xadrez o poderoso chefão do FMI, ex-virtual candidato à presidência da França. Não aceitou sequer a fiança de US$ 1 milhão proposta pela defesa. A essa altura, Strauss-Kahn deve estar rezando para não ser condenado a uma pena que pode chegar a 25 anos de cadeia.
     Aqui no Brasil, o poderoso chefe do poderosa Casa Civil, também ele um virtual candidato à presidência da República, decide não explicar o fabuloso crescimento de seu patrimônio pessoal (20 vezes em apenas quatro anos). Através de sua assessoria, limitou-se a expedir uma nota oficial diversionista, contando com a falta de apuro dos que fazem as notícias e decidido a ganhar tempo.
     Nesse meio tempo, a bancada governamental saiu em defesa do ministro que já atropelara a lei (há cinco anos), ao ser beneficiado pela quebra do sigilo bancário de um simplório caseiro que ousara falar de sua presença constante em uma casa de Brasília, notável por atividades não muito republicanas.
     E a chefe do chefe da Casa Civil? Bem, essa está providencialmente recolhida no Palácio.

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