Estupros verbais

     Paralelamente às inegáveis e louváveis contribuições à informação e ao exercício do pensamente, dois dos melhores programas da Globo News têm pecado na sua responsabilidade com os telespectadores, apesar da incontestável qualidade de seus participantes.
     No ótimo e sempre atual Painel, o apresentador, William Waack, invariavelmente seguro e com domínio dos temas, vem sendo engolfado por duas das pragas da nova linguagem oral brasileira: o uso do inexistente verbo 'tar' e do tal de 'vim', quando o certo seria vir.
     Sábado, o jornalista lembrou sua experiência na África do Sul, destacando - literalmente - que "tive lá".  Em seguida, mais um escorregão, que está se tornando comum: o uso do particípio passado 'vim', no lugar de vir ( pode vir, e não pode 'vim', por exemplo).
     No domingo, foi a vez do ótimo Caio Blinder, no Manhattan Connection, dar sua contribuição, ao misturar tudo em uma frase: "Vamos 'se' ...", disse (nós - e Caio sabe disso -, sempre, 'vamos nos'). Em seguida, sapecou também o seu 'vim', engano muito comum no economista Ricardo Amorim, que faz parte do programa. No domingo anterior, o grande Lucas Mendes havia 'estrupado' o idioma, trocando a posição da consoante 'r'.
     É claro que os quatro citados - todos merecidamente premiados e reconhecidos - dominam a língua portuguesa e dela fazem bom uso. Na verdade, creio que são vítimas de uma espécie de doença contagiosa que vem acometendo o país há alguns anos. Se eu fosse um acadêmico, recomendaria que evitassem ouvir discursos de dirigentes petistas, em especial.