terça-feira, 24 de maio de 2011

A coragem dos irresponsáveis

     Precisamos admitir - nós, os não-crédulos - que o ex-presidente Lula é um sujeito de coragem. No mensalão, como se fosse um apóstolo da vergonha, negou pelo menos três vezes o que o mundo sabia ser verdade. No começo, se fez de surpreso, traído, indignado. No fim, passado o risco real de ser cassado, já arrotava arrogância, ao acusar os acusadores, blasfemar, debochar.
     No primeiro caso Palocci (o da criminosa quebra de sigilo do caseiro que o flagrou participando de encontros em uma mansão de lobistas, em Brasília), Lula foi mais discreto. Não havia como negar o que o próprio governo divulgava. Como de hábito, algumas cabeças rolaram - a do então ministro da Fazenda, em especial -, para manter as aparências. Mais recentemente, vivemos o lamentável episódio de venda de favores na Casa Civil de Erenice Guerra, o braço direito da então candidata Dilma Roussef. E mais uma vez o chefe dos chefes atirou para todos os lados.
     Diante de novo escândalo envolvendo o mesmo Antonio Palocci, Lula manteve-se quieto por alguns dias, assuntando, liderando o movimento dos que não tinham o que dizer e, como os demais, torcendo para o caso esfriar, sair das manchetes, cair no esquecimento. Não houve jeito. Como reza o antigo adágio, a cada enxadada dos repórteres da Folha, especialmente, surge um bom par de minhocas.
     Sem ter como escapar, mas evitando o olho-no-olho, o maior prestigitador da política brasileira armou-se com as antigas armas e exigiu, segundo seus pares em reunião do PT, que os acusadores provem que Palocci comprou um apartamento por R$ 6,6 milhões; um escritório por R$ 800 mil; e ganhou R$ 20 milhões em apenas dois meses, por acaso os dois que se seguiram à eleição de Dilma Roussef. Tudo isso tendo que assinar o ponto no Câmara, pois era deputado federal. Exige provas, como se os fatos fossem mera invenção dos jornais e revistas. É muita coragem, convenhamos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário