segunda-feira, 30 de maio de 2011

Introdução aos textos 'politicamente corretos'

     Vou me permitir esboçar algo semelhante a uma aula de jornalismo para iniciantes na profissão, leitores e telespectadores desavisados. Uma espécie de introdução à produção de textos politicamente corretos que jamais poderão ser tachados de mentirosos, embora absolutamente manipulados.
     Tomemos como exemplo um fato bem recente, a manifestação favorável ao ex-general sérvio Ratko Mladic, prestes a ser enviado ao Tribunal de Haia pelo governo bósnio. É fato notório que Mladic é um genocida, responsável pelo extermínio de milhares de pessoas na Guerra da Bósnia. Um assassino que merece a forca, sem dúvida, mas com um agravante: é de - vamos dizer - direita.
     Atenção: o fato de ser um genocida ou terrorista nem sempre vai merecer críticas definitivas. Se for um Stalin, um Mao ou um Bin Ladem, haverá sempre a possibilidade de encontrar justificativas sociológicas e componentes históricos para atos simplesmente sanguinários. Portanto, cuidado! Na dúvida, é sempre bom colocar uma frase ou duas de um barbicha da UFF ou da USP.
     Voltando ao tema principal. Por ser indesculpável, tudo o que se relaciona a ele - o tal criminoso - também o é, por óbvio. Especialmente manifestações, como a ocorrida ontem e que reuniu milhares de pessoas. Sendo assim, pode-se defender - sem constrangimento - a atuação da polícia para reprimir esse tipo de manifestante.
     Nesses casos - isso é importante! -, os policiais, ao atirar e lançar bombas, estarão apenas 'reagindo' aos ataques de desordeiros. Afinal, fazer o quê, quando grupos de jovens fascistas (e parte dos apoiadores do general sérvio fez, mesmo, pura baderna) saem pela rua jogando pedras e coquetéis molotov nos agentes da lei e da ordem?
     As imagens? Na edição, devem ser usadas as imagens panorâmicas, que exibam os manifestantes raivosos, atacando. Nada de detalhes de policiais 'descendo o sarrafo' em uma jovem acuada.
     Em situações exatamente iguais, mas que envolvam manifestantes que não se enquadrem no perfil 'direitista', é só aplicar o inverso dessas regras. Os policiais serão sempre violentos e reagirão com 'força desproporcional' (é assim que as ações do Exército de Israel são descritas, sempre, por exemplo). As pedras e bombas serão apenas instrumentos da luta pela liberdade, pelo direito de expor ideias.

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