segunda-feira, 16 de maio de 2011

Comissão de 'Ética' absolve Palocci

     No início de 2007, um escândalo se abateu sobre o Supremo Tribunal Federal. Gravações oficiais de conversas entre advogados e lobistas - sobre uma decisão que favoreceu o Banco do Estado de Sergipe em uma divergência sobre o recolhimento da Cofins - remetiam para a compra da sentença, por R$ 600 mil. Segundo foi apurado, o dinheiro teria sido pago ao ministro Sepúlveda Pertence, que reagiu, é claro. Por falta de provas, o assunto morreu.
     Hoje, a Comissão de Ética da Administração Pública decidiu que não há motivos para investigar a surpreendente evolução do patrimônio do ministro da Casa Civil, Antônio Palocci, que saiu de simplórios R$ 375 mil para estratosféricos 7,5 milhões em apenas cinco anos. Por coincidência, o presidente da Comissão é o ex-ministro Sepúlveda Pertence.
     Para ele, não há necessidade de investigações, já que o ministro se desligara da  empresa de consultoria, através da qual amealhara uma pequena fortuna, antes de assumir o cargo. Em síntese: o que passou, passou. E vamos em frente.
     Excetuando um detalhe aqui, outro ali, o raciocínio da Comisão de Ética coincide com as - digamos - explicações do ministro, baseadas no cumprimento das exigências legais para alguém assumir um cargo especialmente no primeiro escalão de um governo. Mas isso jamais esteve em discussão. O foco nesse ponto é puro diversionismo, uma tática para desviar a atenção para o fato maior e mais importante: o enriquecimento desproporcional de um ex-ministro (chefiava a Fazenda, no governo Lula) e deputado federal, que tinha obrigações diárias com seu partido, o PT, no Congresso.
     A dinheirama, segundo a assessoria de Palocci, teria origem em consultorias, trabalho que o atual ministro realizava paralelamente ao desempenho da função pública. Sepúlveda Pertence, que avalizou integralmente essas 'explicações, chegou a confessar que orientou pessoalmente o ministro, para trocar o objeto da empresa de consultoria mais bem sucedida do país, a Projeta, que passou a ser uma inofensiva adminstradora de imóveis.
     A 'nova empresa', não por acaso, tem apenas dois imóveis sob sua administração, exatamente os dois comprados pelo ministro: um escritório avaliado em R$ 800 mil e o suntuoso apartamento no Jardins, o bairro mais aristocrata de São Paulo, adquirido por R$ 6,6 milhões.
     E ninguém vai preso, ou é demitido.

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