sábado, 17 de março de 2012

Relações promíscuas

     Tenho admitido, eventualmente, que demoro a entender determinados fatos. Às vezes, chego a ler e reler um assunto, para ter certeza de que alguém está me chamando, mesmo, de idiota, normalmente um sujeito qualquer do governo, com a conivência de quem reproduz seus declarações ou pensamentos. Foi o que aconteceu hoje, mais uma vez, ao ler a reportagem do Estadão sobre o que o jornal chamou de "primeira manifestação do ex-presidente Lula sobre a crise política entre o Planalto e partidos da base."
     Segundo o texto, montado com base em declarações do novo líder do Governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB do Amazonas), que esteve com o ex-presidente, no Hospital Sírio e Libanês, em São Paulo, onde Lula continua seu tratamento contra a infecção pulmonar contraída em virtude da baixa imunidade causada pelo tratamento contra um câncer.
     O senador garantiu que Lula apoiou as mudanças nas lideranças na Câmara e no Senado e disse, entre aspas: "O momento é de transformação. O País vive uma nova realidade econômica e social. Por isso é fundamental a renovação e a instituição de novos métodos e práticas políticas".
     É como se essas tais 'práticas políticas' não fossem as promíscuas trocas (e vendas) de interesse entre o governo e os partidos que compõem a sua base de apoio, levadas ao extremo pelo próprio ex-presidente, na luta pelo PT de preservar o poder, a qualquer custo. Lula, segundo o novo líder, teria dito que é preciso, justamente, mudar tudo o que ele fez em oito anos e a presidente Dilma manteve nos seus 14 primeiros meses de governo.
     É difícil ler vigarice retórica maior. Especialmente quando fica claro que não há um projeto moralizador das relações entre Executivo e Legislagivo, marcadas indelevelmente pelo nefasto episódio do Mensalão. Há, apenas, uma tentativa de marcar posições, com acomodações que não provoquem rachas. O episódio da rejeição da indicação do diretor-geral da ANTT, pelo Senado, exibiu a fragilidade dos conchavos isentos de ideologia.
     O PMDB e o PR deram, sim, seu recado, nos últimos dias. Eles sabem com quem estão lidando.

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