sexta-feira, 16 de março de 2012

Nós merecemos os pontapés

     Nossos jornais festejam hoje, em manchete, a superação da crise entre o Governo Brasileiro e a ... Fifa. É isso mesmo. Comemora-se um armistício entre o Brasil e uma entidade particular que comanda o futebol, como se ambos estivessem no mesmo patamar, como se os presidentes de cada uma das 'partes', Dilma Rousseff e Joseph Blatter - que se encontraram hoje, em Brasília -, tivessem a mesma dimensão política.
     Não têm. A Fifa, por maior importância que tenha na área esportiva, não passa do que efetivamente é: uma associação que representa, em extremo, entidades ligadas ao futebol. A demagogia política e o populismo dos nossos últimos governos - que apostaram alto nos dividendos políticos provenientes da realização da Copa de 2014, um ano de eleições presidenciais - submeteram o país a situações inaceitáveis
     Já não me prendo à mediocridade do tal encontro entre Dilma Rousseff e o burocrata francês Jèrôme Volcke, no escritório dele, ano passado. Foi apenas uma das muitas demonstrações de servilismo que desaguaram no tal episódio em que esse mesmo funcionário sugeriu que precisávamos de um chute no traseiro, para atender às obrigações contraídas.
     Mais grave - pelo que representa de interferência externa em assuntos nacionais - é a insistência na aprovação da venda de bebidas alcoólicas nos estádios, durante os jogos do Mundial, apenas e tão-somente para atender a uma exigência de um dos patrocinadores da Fifa, uma marca de cerveja. O mais indecente, nesse embate, é que a Fifa tem razão: o ex-presidente Lula, com a falta de senso crítico e a limitação crônica que o caracterizam, comprometeu o país, garantindo que a venda seria liberada.
     Garantiu algo que não estava na sua alçada, pois interfere diretamente na nossa legislação, atropelando não apenas o Judiciário, mas o Congresso, que terá a incumbência de aprovar essa iniquidade jurídica, parta de uma tal Lei Geral da Copa, um enorme convite às mais diversas vigarices nos mundos da ética e da construção civil.
     Fazendo justiça à recente nomeação para liderar a bancada governamental, o deputado paulista Arlindo Chinaglia (do PT, é claro) antecipou o argumento que vai usar para aprovar o estupro no Estatudo do Torcedor: como a lei fala em proibição da 'entrada de bebidas nos estádios', ele entende que pode acontecer a venda. É a vigarice na sua forma mais exacerbada. 
     E ainda há quem tenha reclamado dos pontapés retóricos no traseiro brasileiro que vêm sendo dados há algum tempo. Esse tipo de gente merece o quê?

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