sábado, 17 de março de 2012

Inhoaíba exige isonomia

     Vou me permitir sugerir ao nosso trêfego prefeito e a seus auxiliares diretos algumas medidas destinadas a preservar as características culturais e históricas das ruas e avenidas do aprazível subúrbio de Inhoaíba, partindo da premissa que todos nós, cariocas por nascimento e adoção, temos os mesmos direitos e merecemos a mesma consideração que vem sendo dedicada aos bairros de Ipanema e Leblon.
     Na verdade, não queremos (eu, embora não more lá nem conheça alguém que vivencie essa experiência, me sinto um inhoaibense por afinidade) preservar coisa alguma. De fato, só queremos alguma atenção. Nós aceitaríamos, por exemplo, todas as agências bancárias, farmácias e lojas de R$ 1,99 que a prefeitura decidiu banir, por decreto, das ruas de dois dos nossos cartões postais, lugares dos quais nós nos orgulhamos muito.
     Nós não ligamos muito para essas intelectualidades, essas preocupações estéticas (essas lojinhas devem ser horrorosas, mesmo, coisa de pessoas desprovidas de posses e - possivelmente - de dentes). Manda tudo para cá, Eduardo. Aproveita e manda, também, uma turma para manter o nosso bairro limpo, ruas asfaltadas decentemente. E já que vocês são da mesma turma, pede ao governador que providencie policiamento, água e esgoto sanitário.
     As escolas também precisam de atenção, Eduardo. E o nosso lazer? Nossos vizinhos aí da Zona Sul podem fechar os olhos quando passarem por esse comércio de quinta. Eles sabem que têm essa beleza de mar para olhar. Por aqui, só tem valão cheio de esgoto. Tudo bem, nós sabemos que a praia daí também é poluída, mas o visual compensa.
     Fica tranquilo. Os donos de biroscas 'tradiconais' não vão reclamar, nem seus frequentadores. O jornaleiro da esquina também já declarou seu apoio à revitalização do lugar. Eles não ligam muito para essas incursões filosóficas destinadas a ganhar espaço na mídia. O dono da única livraria da região, especializada em obras de física quântica, já disse que está doido para mudar de ramo e passar a vencer cds do Michel Teló, música gospel e funk proibidão.
     - O mercado deve ser soberano e livre", filosofou nosso quase ex-livreiro (único nas redondezas capaz de criar uma frase tão profunda), imaginando como vão ficar as novas prateleiras e a conta bancária que finalmente vai abrir, em uma das agências expurgadas da Zona Sul.

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